Criada por Katori Hall, ao lado de mais oito roteiristas, a produção desenvolve as narrativas pessoais e sensíveis de um grupo de dançarinas, além de se afastar do voyeurismo masculino da televisão
Nicolle Cabral | @NicolleCabral Publicado em 11/08/2020, às 07h00
O imaginário de Pussy Valley foi criado por Katori Hall há mais de uma década. Em 2009, a premiada dramaturga passou a frequentar boates de strip-tease nos Estados Unidos como pesquisa e, ao todo, entrevistou mais de 40 mulheres sobre experiências, narrativas pessoais e o estigma associado as strippers.
Entre conversas íntimas, aulas de pole dance e a celebração do 30º aniversário nos bastidores de uma das boates de Nova York, Katori deu origem a peça Pussy Valley que, agora, ganhou uma adaptação para a TV com a colaboração de mais oito diretoras mulheres. Exibida pela Starzplay, a série, que conta com 8 episódios, desconstrói os esteriótipos hipersexualizados e movimenta uma história envolvente e sensível sobre um grupo de dançarinas que enfrentam questões como a maternidade, racismo, violência doméstica, estresse pós-traumático, exploração do trabalho e corrupção.
"Por ter sido uma testemunha da vida de tantas mulheres eu queria dar um presente a esse público", explica a diretora em entrevista ao The Cut.
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Logo no primeiro episódio somos atraídos por Autumn Night (Elarica Johnson) e, por meio dela, conhecemos o brilho do universo Pynk, boate de strip-tease ambientada em Mississippi Delta, no sul dos Estados Unidos — enquanto o resto da cidade parece cair aos pedaços.
Com um passado obscuro e traumático — ao longo da série, o revistamos por flashbacks —, a personagem se desenvolve ao lado da estrela do clube, Mercedes (Brandee Evans), que luta pela aposentadoria para ser professora de dança de adolescentes e enfrenta uma relação abusiva com a mãe, devota da Igreja da cidade.
Pussy Valley caminha por várias linhas narrativas, mas o elo que sustenta todas as relações desenvolvidas entre as paredes da Pynk se deve ao Uncle Clifford, interpretado por Nicco Annan, um personagem queer. Enquanto as dançarinas usam da boate como maior fonte de renda, Pynk está na mira de empresários que querem montar um cassino onde ela está localizada, devido à dívida do aluguel deixada por Clifford.
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Entre esses impasses e performances acrobáticas, a produção apresenta cada uma das personagens sob uma ótica inteiramente feminina. "Há programas de TV que usaram o clube de strip como pano de fundo, mas nunca investigaram as mulheres que trabalham lá", pontua Katori em entrevista ao The Guardian. O resultado é uma narrativa provocativa que dispensa o voyeurismo masculino do cinema e nos faz sentir como é estar em cima daqueles saltos altos.
As Golpistas, lançado em 2019, estrelado por Jennifer Lopez, abriu uma janela para essa discussão, contudo, boa parte das produções de Hollywood sempre empenhou em colocar essas mulheres apenas como uma distração no fundo das cenas. Com isso, Pussy Valley aparece para ressignificar esse olhar. Enquanto os homens as objetificam, elas adquirem informações confidenciais sobre transações bilionárias e sabem exatamente em quem fazer um lap dance para conseguir dinheiro mais rápido.
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Ao longo dos episódios, com duração média de uma hora, Pussy Valley levanta contrapontos assertivos sobre conflitos morais e enfatiza o clima de trabalho e a irmandade daquela comunidade. Ao mesmo tempo em que a série explora o desconforto de ter uma parte do corpo tocada indesejadamente por um estranho e o respeito pelo próprio trabalho, elas discutem sobre um senso de união, diversidade, colorismo e gênero.
Karena Evans, Kimberly Peirce, Millicent Shelton, Tamra Davis e Geeta V. Patel são alguns dos nomes que encabeçam os episódios. Escritos por Katori Hall, porém dirigidos por cada uma dessas mulheres, as narrativas compartilham de um espírito de mudança social e evidenciam a feminilidade negra. Em entrevista ao Collider, Katori dividiu depoimentos de dançarinas que assistiram à produção e a agradeceram por "não transformar essa escolha como algo vergonhoso". Nesse recorte, a série se empenha em enfatizar a expressão corporal das personagens quando no alto do pole dance.
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Com a exibição de episódios marcada para até o dia 30 de agosto — a série já ganhou um aceno para a segunda temporada —, Pussy Valley prospera às telas com mulheres negras como diretoras, roteiristas e protagonistas em um debate extenso de desconstrução sobre a indústria do desejo.
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