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Verdade em Preto e Branco

Uma instituição da fotografia de moda, PETER LINDBERGH tem cada vez mais o que expressar na ausência de cor de seus cliques

Stella Rodrigues Publicado em 11/08/2015, às 15h19 - Atualizado em 13/08/2015, às 15h51

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Verdade em Preto e Branco
Verdade em Preto e Branco

O termo “supermodelo” atingiu um grau de ubiquidade que redefiniu a moda de maneira permanente. Mas o conceito não existe desde sempre. Pode-se dizer que o fotógrafo e documentarista alemão Peter Lindbergh, de 70 anos, é um dos responsáveis pela expressão, graças às icônicas imagens que registrou para um ensaio da revista Vogue em 1988. “Não sei se inventei. Acho que foi uma questão de timing”, conta Lindbergh.

“Imagino que o que fiz foi trazer algo novo e moderno, com narração, histórias, novas modelos e locações. Ironicamente, minha visão da moda não envolve muito as roupas. Meu foco está no momento em que o filme capta a alma da pessoa posando para a câmera.” A estética em preto e branco definiu a obra de Lindbergh, que se tornou uma referência do estilo. Ainda assim, ele tira inspiração do trabalho de vários outros colegas que retratam o mundo sem cores, como o brasileiro Sebastião Salgado. “A diversidade do trabalho dele me impressiona, mas, além dos assuntos que Salgado opta por retratar, admiro a profundeza dramática da fotografia que ele faz”, afirma. Eterno defensor de uma imagem plástica mais verdadeira, ele diz encontrar esse aspecto com maior facilidade no P&B por ter crescido vendo imagens da Grande Depressão, além do fato de ser fã dos cinemas russo e alemão da década de 1920.

Sendo assim, Lindbergh critica o uso excessivo de técnicas de retoque, tão comuns ao universo da moda e da publicidade. “Estética é o que cada um acha que é. Mas por que ela deveria apagar qualquer traço de personalidade ou verdade? Essas pobres modelos nem se reconhecem no resultado final”, aponta. “Uma vez, uma modelo me disse que gostava de trabalhar comigo porque somente nos meus cliques ela conseguia ver que era ela mesma na foto.”

Lindbergh não deixa de ressaltar o machismo e o preconceito pungentes que existem nessa indústria, porém se mostra esperançoso em relação ao futuro. “Você vê que a mentalidade está evoluindo quando há uma modelo transexual, como Andreja Pejic, com uma carreira de sucesso. [A celebridade e ex-atleta] Bruce Jenner se tornou uma mulher e recebeu apoio em massa. Quando cliquei uma campanha para a Tiany com um casal de homens, as pessoas respaldaram”, exemplifica.

Álbum de família

Em novo livro, Peter Lindbergh seleciona imagens icônicas de uma década de trabalho

As fotos vistas aqui integram o livro Images of Women II 2005-2014 (capa à esq.), espécie de inventário no qual o fotógrafo selecionou parte de suas fotos preferidas da última década (e algumas anteriores). Prolífico, Lindbergh teve dificuldade para escolher. “Começa com uma ideia e um título que a resuma. A partir daí, você edita, edita e edita. É preciso saber o que se quer dizer, e isso tem a ver também com as imagens que são importantes para você, as pessoas com quem gostou de trabalhar. É uma abordagem humana. Não se trata do nível de fama da pessoa retratada”, diz ele, que garante que “ainda tem muito a dizer nos próximos dez anos”, indicando a existência de novas obras como essa. “Algumas dessas pessoas trabalharam tanto comigo que é como um álbum de família para mim. Daria para fazer mais uns dez livros de fotos de mulheres!”