POLÊMICA

Diretor de Emilia Pérez: 'O espanhol é um idioma de pobres e migrantes'

Jacques Audiard se vê novamente no centro de uma polêmica, aumentando o descontentamento do público hispânico — especialmente o mexicano — com sua obra

Aline Carlin Cordaro (@linecarlin)

Publicado em 30/01/2025, às 19h31
Jacques Audiard em Cannes. LP/Frédéric Dugit
Jacques Audiard em Cannes. LP/Frédéric Dugit

Durante os últimos meses, Emilia Pérez tem sido alvo de polêmicas e críticas do público latino-americano. Apesar de ser uma das produções mais aclamadas da temporada de premiações, muitos a consideram mais uma obra que fetichiza a cultura mexicana e reforça estereótipos sobre o país. Seu diretor, Jacques Audiard, chegou a afirmar que não dedicou muito tempo pesquisando sobre o México antes de rodar o filme e, agora, novas declarações do cineasta francês aumentaram ainda mais o descontentamento do público hispânico.

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Durante uma entrevista ao veículo Konbini, Audiard afirmou que “o espanhol é um idioma de países modestos, de países em desenvolvimento, de pobres e migrantes”. Suas palavras geraram uma onda de críticas na internet, com usuários apontando o tom desrespeitoso da declaração e questionando sua visão sobre o idioma e seus falantes.

O comentário de Audiard foi interpretado como um reflexo de uma visão eurocentrista que minimiza a importância do espanhol como uma das línguas mais faladas no mundo. Em resposta, algumas pessoas destacaram a falta de embasamento na afirmação do diretor, lembrando que existem países hispanofalantes com enorme influência cultural e econômica. Outros mencionaram as contradições do argumento de Audiard, já que Haiti, uma das nações mais empobrecidas do mundo, tem o francês como língua oficial, o que desmontaria a suposta relação direta entre idioma e desenvolvimento econômico. Além disso, muitas críticas relembraram o passado colonialista da França e seu impacto sobre países africanos e caribenhos, onde o francês foi historicamente imposto.

Um retrato superficial do México

Emilia Pérez, que aborda temas como narcotráfico e violência no México, já havia sido criticado anteriormente por oferecer uma visão estereotipada do país e tratar questões sensíveis de forma superficial. Durante uma apresentação no México, Audiard tentou amenizar as críticas, pedindo desculpas por não ter feito uma pesquisa mais aprofundada sobre a cultura e os problemas sociais relacionados ao narcotráfico na região.

“Se acham que tratei isso com muita leviandade, peço desculpas”, afirmou o diretor na ocasião. 

Apesar da polêmica, o diretor mencionou que estudou espanhol na juventude. Em sua entrevista ao Konbini, afirmou que achou “enriquecedor” trabalhar com o idioma durante a produção do filme e revelou que pretende se aventurar em outras línguas que não domina.

A música das pessoas vem dos seus idiomas. Mergulhar em uma língua é mergulhar na música. Eu estudei espanhol na escola e, com essa oportunidade de cantar e escrever em espanhol, fiquei muito feliz. Eu adoro idiomas. Se alguém me pedir para fazer um filme em chinês, mal posso esperar para realizá-lo”, disse o cineasta.

Essa matéria é uma tradução da Rolling Stone ES, escrita por Valentina Villamil e publicada em 30 de janeiro de 2025. Leia a versão original aqui.