Lobisomem revive monstro clássico com apelo melodramático; RS já viu
Na novidade, uma família se torna refém de uma criatura misteriosa ao se mudar para a residência de infância do patriarca
Angelo Cordeiro (@oangelocinefilo)
Publicado em 17/01/2025, às 14h00
Lobisomem, suspense dirigido por Leigh Whannell (Sobrenatural: A Origem), entra em cartaz nos cinemas brasileiros com a intenção de reimaginar um dos monstros mais clássicos da cultura pop. Porém, infelizmente, a novidade não consegue aproveitar todo o potencial de sua premissa e de uma figura já tão presente no imaginário cinematográfico.
Em Lobisomem, o cineasta propõe criar uma abordagem mais melodramática, voltada para a dinâmica familiar, que serve quase como um contraponto para O Lobisomem (2010), protagonizado por Benicio del Toro (Sicario: Terra de Ninguém), uma produção mais focada na ação, no terror e no gore.
A trama da novidade gira em torno de uma família que se isola em uma casa no estado do Oregon, em busca de reconstrução emocional. A escolha do cenário — uma casa isolada no meio de uma floresta — já é um clichê dentro do terror, e aqui não há nada novo a ser explorado.
A premissa de um local inóspito, que parece ser assombrado pelo desconhecido, poderia ter sido um ponto forte, mas o filme nunca consegue realmente captar uma atmosfera tensa e inquietante. O terror, por mais que seja edificado na fotografia escura da noite em que a história se desenrola, apresenta-se mais como uma metáfora para o medo da perda do que uma ameaça concreta, o que enfraquece sua capacidade de engajar o espectador.
O grande problema de Lobisomem está na construção do terror e na falta de um desenvolvimento mais sólido. Embora Whannell tente homenagear seus clássicos favoritos dos anos 80, como O Enigma de Outro Mundo (1982) e A Mosca (1986), sua execução fica aquém da essência de tais fitas.
O diretor homenageia A Mosca ao incorporar aspectos do body horror, mas as cenas de transformação, ainda que bem produzidas a partir de efeitos práticos, não possuem grande impacto, já que a câmera se limita ao plano detalhe, numa tentativa de incomodar a plateia, e nem tanto de chocá-la. E é realmente frustrante que o diretor de Upgrade: Atualização (2018) e O Homem Invisível (2020) não consiga expor seu virtuosismo nas raras sequências de embate físico de Lobisomem.
Além disso, o longa apresenta uma abordagem tímida sobre a masculinidade tóxica. O protagonista (Christopher Abbott, Ao Cair da Noite) é um pai protetor, que promete cuidar de sua filha (Matilda Firth, Hullraisers) a todo custo e para sempre, contrastando com seu pai na infância, de quem ele chegava a ter medo. Porém, na tentativa de escapar da mesmica, os elementos não são suficientemente explorados para que o filme tenha um comentário relevante sobre tais questões. O foco nas relações familiares parece mais certeiro, ainda que genérico.
O entusiasmo pelo aspecto melodramático da obra compromete o equilíbrio entre drama e terror. Embora Lobisomemaborde questões emocionais, como a fragilidade de uma família em crise, o melodrama, ao invés de intensificar a tensão da narrativa, acaba por cansar o espectador, que se vê diante de clichês já repetidos tantas vezes no cinema — e ora, esse é um filme de terror, o público não quer ver chororô. Nesse ponto, o filme falha ao não encontrar um tom que unifique essas duas dimensões e acaba deixando o terror em segundo plano por boa parte do tempo.
Em suma, Lobisomem até tem uma proposta diferente de outras abordagens do monstro, mas não consegue executá-la de forma eficaz. A tentativa de fazer uma reinterpretação do clássico com uma abordagem mais intimista carece de profundidade e originalidade. Whannell, em vez de explorar profundamente o terror, opta por focar nas relações familiares e nas fragilidades dos personagens, mas falha em criar uma conexão emocional com o público. O resultado é uma narrativa que oscila entre o drama e o terror, olhando mais para o drama, até quando tenta aterrorizar.
Especial de cinema da Rolling Stone Brasil
O cinema é tema do novo especial impresso da Rolling Stone Brasil. Em uma revista dedicada aos amantes da sétima arte, entrevistamos Francis Ford Coppola, que chega aos 85 anos em meio ao lançamento de seu novo filme, Megalópolis, empreitada ousada e milionária financiada por ele próprio.
Inabalável diante das reações controversas à novidade, que demorou cerca de 40 anos para sair do papel, o cineasta defende a ousadia de ser criativo da indústria do cinema e abre, em bom português, a influência do Brasil em seu novo filme: “Alegria”.
O especial ainda traz conversas com Walter Salles, Fernanda Torres e Selton Mello sobre Ainda Estou Aqui, um bate-papo sobre trilhas sonoras com o maestro João Carlos Martins, uma lista exclusiva com os 100 melhores filmes da história (50 nacionais, 50 internacionais), outra lista com as 101 maiores trilhas da história do cinema, um esquenta para o Oscar 2025 e o radar de lançamentos de Globoplay, Globo Filmes, O2 Play e O2 Filmes para os próximos meses.
O especial de cinema da Rolling Stone Brasil já está nas bancas de jornal, mas também pode ser comprado na loja da editora Perfil por R$ 29,90. Confira:
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