CRÍTICA

Salão de Baile apresenta a cena ballroom pelo olhar de quem a vive

Documentário da dupla Juru e Vitã, que se consagrou como grande vencedor do 32º Festival MixBrasil, chega aos cinemas nesta quinta-feira (5)

Angelo Cordeiro (@angelocinefilo)

Publicado em 04/12/2024, às 19h00 - Atualizado em 05/12/2024, às 19h00
Salão de Baile apresenta a cena ballroom pelo olhar de quem a vive; leia a crítica - Divulgação/Retrato Filmes
Salão de Baile apresenta a cena ballroom pelo olhar de quem a vive; leia a crítica - Divulgação/Retrato Filmes

Uma das falas que mais me marcou na entrevista que fiz com Juru e Vitã, diretoras do documentário Salão de Baile: This is Ballroom — e que vivem a cena —, é a afirmação de que é muito legal receber prêmios e toda a visibilidade que o vencedor do Coelho de Ouro no 32º Festival MixBrasil está recebendo, mas nada supera ver a cena local e a comunidade se sentindo representada e valorizada pelo projeto. 

A partir de declarações como essa, Salão de Baile ganha contornos de um documentário que é feito por e para as pessoas da cena ballroom. Mas não só. Aqueles que se aventurarem em conhecer mais sobre os bailes ballroom — venhamos e convenhamos, essa é a principal premissa de um documentário como este — irão perceber muita verdade por parte de Juru e Vitã neste mergulho na cena do Rio de Janeiro, explorando tanto a individualidade dos artistas e performers quanto a força da coletividade que caracteriza esse espaço.

O filme, no entanto, não se limita a ser uma simples documentação da cena, justamente por ter essa noção de que é um manifesto coletivo, um espaço de visibilidade para as histórias pessoais que compõem a ballroom, abordando as transformações individuais e coletivas. É um documentário politizado que, a partir de seu espaço de resistência, no qual essas pessoas invisíveis para a sociedade podem se manifestar e manifestar seus corpos, se torna identitário e transformador.

Criando uma narrativa plural, sem centrar a história em poucos protagonistas e costurando as histórias de suas personagens — algo semelhante ao feito no clássico Paris is Burning (1990) —, Salão de Baile reflete a diversidade da cena e a multiplicidade das histórias que surgem ali sem perder a conexão emocional com o público. Essa decisão de pluralidade se reflete também no processo de produção, que incluiu membros da cena como parte fundamental da equipe, uma escolha que demonstra o compromisso das diretoras em não apenas retratar, mas também incluir e dar voz àqueles que fazem parte desse universo. 

A estratégia de equilibrar o foco no indivíduo e na comunidade resulta em uma narrativa rica e envolvente, que transmite a complexidade e a beleza da ballroom. Esse processo de proximidade com o ambiente e as pessoas que participam da cena é um dos maiores méritos do filme pois, dessa forma, Salão de Baile traz um olhar sincero e profundo sobre uma cultura tão rica em expressão. 

O filme também se destaca pela sensibilidade na abordagem das questões de gênero, raça e identidade, temas centrais da cena ballroom. As discussões sobre transformação pessoal, autoexpressão e o impacto da ballroom na vida das pessoas são tratadas com delicadeza e respeito, criando uma narrativa que não só documenta, mas também celebra a pluralidade de vivências dentro da comunidade LGBTQIAPN+ e das pessoas pretas que a compõem.

Embora Salão de Baile seja uma celebração da cultura ballroom e sua comunidade, o documentário não deixa de abordar questões tensas e delicadas, que permeiam tanto a cena quanto a vida dos indivíduos nela envolvidos. Entre as questões mais intensas, estão as dificuldades enfrentadas por pessoas trans e não-binárias, que lutam não apenas por reconhecimento dentro da ballroom, mas também pela aceitação e sobrevivência no mundo fora dela. A precariedade social e a marginalização dessas pessoas são elementos recorrentes, muitas vezes refletidos nas suas performances e nas histórias que elas compartilham no espaço da ballroom. 

Além disso, o filme traz à tona a violência simbólica e o estigma que ainda cercam as identidades trans, com destaque para o impacto negativo da transfobia, tanto dentro quanto fora da comunidade. Essas questões são tratadas sem disfarces, o que confere ao filme uma profundidade emocional e crítica, mostrando que, apesar de ser um espaço de expressão e empoderamento, a ballroom também é um reflexo das dificuldades estruturais que a sociedade impõe aos corpos dissidentes.

Em suma, Salão de Baile é um documentário que não só registra um fenômeno cultural, mas também participa ativamente do fortalecimento e da visibilidade da cena ballroom, mostrando sua riqueza e diversidade de forma sincera e respeitosa. Ao equilibrar histórias individuais com o coletivo, o filme de Juru e Vitã — e desta comunidade — consegue capturar a energia única da ballroom, tornando-a mais acessível e compreendida, ao mesmo tempo em que celebra sua complexidade e transformação contínua.

Especial de cinema da Rolling Stone Brasil

O cinema é tema do novo especial impresso da Rolling Stone Brasil. Em uma revista dedicada aos amantes da sétima arte, entrevistamos Francis Ford Coppola, que chega aos 85 anos em meio ao lançamento de seu novo filme, Megalópolis, empreitada ousada e milionária financiada por ele próprio.

Inabalável diante das reações controversas à novidade, que demorou cerca de 40 anos para sair do papel, o cineasta defende a ousadia de ser criativo da indústria do cinema e abre, em bom português, a influência do Brasil em seu novo filme: “Alegria”.

O especial ainda traz conversas com Walter Salles, Fernanda Torres e Selton Mello sobre Ainda Estou Aqui, um bate-papo sobre trilhas sonoras com o maestro João Carlos Martins, uma lista exclusiva com os 100 melhores filmes da história (50 nacionais, 50 internacionais), outra lista com as 101 maiores trilhas da história do cinema, um esquenta para o Oscar 2025 e o radar de lançamentos de Globoplay, Globo Filmes, O2 Play e O2 Filmes para os próximos meses.

O especial de cinema da Rolling Stone Brasil já está nas bancas de jornal, mas também pode ser comprado na loja da editora Perfil por R$ 29,90. Confira:

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