5 destaques do bom show realizado pelo The Cult em São Paulo
Banda liderada por Ian Astbury (voz) e Billy Duffy (guitarra) se apresentou na Vibra São Paulo em meio a turnê nacional que celebra 40 anos de carreira
Igor Miranda (@igormirandasite)
The Cult se apresentou no último domingo, 23, na Vibra São Paulo, na segunda de três apresentações de sua atual turnê pelo Brasil. Antes, a banda inglesa liderada por Ian Astbury (voz) e Billy Duffy (guitarra) tocou no Rio de Janeiro, no sábado, 22. Terça-feira, 25, é a vez da Live, em Curitiba, recebê-los.
O grupo completo por Charlie Jones (baixo, desde 2020) e John Tempesta (bateria, desde 2006) trouxe ao país a turnê L’America 8525, uma extensão do giro que, desde 2023, celebra os 40 anos de fundação do projeto — criado ainda como Death Cult antes de adotar o nome que todos conhecem. Nesta etapa da excursão, eles trazem como atração de abertura o Baroness, banda americana que funde sludge metal com elementos progressivos.
A Rolling Stone Brasil acompanhou a apresentação em território paulistano e apresenta, a seguir, cinco destaques. Confira:
1) Repertório caprichado
A etapa L’America 8525 da turnê não trouxe grandes surpresas em relação aos shows do último ano. E nem precisava. The Cult conseguiu compilar um setlist bastante representativo de sua carreira, com sete de seus onze álbuns contemplados — além de duas coletâneas que à época trouxeram faixas inéditas.
Os discos Love (1985, completando 40 anos de lançamento) e Sonic Temple (1989), como esperado, tiveram mais presença, com quatro e três canções cada. O restante se distribuiu entre trabalhos dos primórdios, como Dreamtime (1984) e Electric (1987), e registros mais recentes, a exemplo de Beyond Good and Evil (2001) e Under the Midnight Sun (2022).
Um acerto e tanto, visto que a seleção de músicas mostra bem do que se trata The Cult: um grupo heterogêneo, que explorou sonoridades diversas e nunca se limitou ao hard rock praticado em seus grandes hits. Canções como as pesadas “In the Clouds” e “War (The Process)” e a contemplativa “Brother Wolf, Sister Moon” se fundem de forma natural com aquelas que tocaram exaustivamente na década de 1980: a balada “Edie (Ciao Baby)”, a sonoramente gigante “Fire Woman”, o primeiro sucesso “She Sells Sanctuary” e as irresistíveis “Sweet Soul Sister” e “Love Removal Machine”, só para ficar em alguns exemplos.
Para o público brasileiro, ainda ofereceram “Revolution”, faixa que não era tocada ao vivo desde 2022. No Rio, chegaram a tocar “Lucifer”, mas esta acabou cortada em São Paulo. Veja o setlist completo:
Setlist — The Cult:
1. In the Clouds
2. Rise
3. Wild Flower
4. Star
5. The Witch
6. Mirror
7. War (The Process)
8. Edie (Ciao Baby)
9. Revolution
10. Sweet Soul Sister
11. Resurrection Joe
12. Rain
13. Spiritwalker
14. Fire Woman
Bis:
15. Brother Wolf, Sister Moon
16. She Sells Sanctuary
17. Love Removal Machine
2) Simplicidade é (quase) tudo
Em tempos onde shows ao vivo estão cada vez mais elaborados visualmente, The Cult aposta em uma abordagem tão minimalista que surpreende. Simplesmente não há nada a se ver a não ser os quatro músicos e iluminação. Neste último ponto eles capricham, com canhões posicionados também em cima do palco, dando um efeito vistoso.
Cada música tem sua cor própria, de modo quase monocromático, e às vezes é interessante observar as transições. A mais notória delas se deu entre “Edie (Ciao Baby)”, com o palco todo azul para aproveitar sua calmaria melódica, e “Revolution”, trazendo um vermelho vívido e instigante. Tons de laranja, roxo e verde também são explorados em outros momentos.
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Mandaram mal apenas na decisão de desligar os telões. Casa de porte considerável, a Vibra São Paulo comporta aproximadamente 6,5 mil pessoas. Não se está tão próximo assim do palco para dispensar recursos tão valiosos àqueles mais baixinhos ou que estão no fundo.
3) Uma instituição chamada Ian Astbury
Ian Astbury sabe que é difícil deixar de olhar para ele no palco. Talvez por isso, nem precisa se esforçar tanto para se comunicar. São raras as vezes em que estabelece diálogo com o público. Não há necessidade.
O vocalista, que se tornou papai recentemente, definitivamente não parece ter 62 anos de idade. Primeiro pela voz, que, de modo majoritário, preserva a forma dos tempos de juventude — exceção feita a momentos como “She Sells Sanctuary” e “Fire Woman”, onde busca atalhos, mas sem comprometer a interpretação.
Segundo, pela presença de palco que beira o caótico. O artista frequentemente anda em círculos, percorre quase toda a extensão da boca de cena e muitas vezes adquire também função de percussionista com uma meia-lua (em várias ocasiões atirada para trás quando ele se cansa de tocá-la). Haja fôlego.
4) Trio instrumental amarrado
Faz bastante tempo que The Cult não se apresenta como um quarteto, com vocalista e um trio instrumental composto por guitarra, baixo e bateria. Felizmente, o básico funciona, não só pela escolha de repertório que favorece a performance mais enxuta, como também por Billy Duffy, Charlie Jones e John Tempesta estarem bem amarradinhos.
Duffy é um dos guitarristas mais subestimados da história do que se chama de “rock clássico”. Nada exibicionista, o músico trabalha sempre em prol da canção, seja pela escolha de timbres polpudos ou por servir como fio condutor de melodias irresistíveis — ouça as introduções da maior parte das faixas e comprove isso.
Em seu apoio há o baixo de Jones, sujeito que seria 100% discreto não fosse o uso de sapatos extremamente brilhantes. É ele quem dá consistência ao prover linhas que, momentos de destaque à parte, quase sempre estão na retaguarda enquanto Duffy se preocupa mais com licks e arranjos.
Tempesta é figurinha carimbada pelos fãs de metal: antes de se juntar ao The Cult, tocou com, entre outros, Exodus e Testament, bandas clássicas do thrash metal, além de White Zombie, nome associado ao metal alternativo/industrial que deu ao mundo Rob Zombie. Aqui, tem de segurar um pouco a mão para executar tudo conforme as gravações originais, todas feitas por outros músicos, visto que os discos gravados por ele não compõem o setlist (o americano já integrava a banda no período de Under the Midnight Sun, mas as baquetas ficaram a cargo de Ian Matthews, do Kasabian).
5) Baroness e sua abertura de luxo
Parecia não haver tanta semelhança entre The Cult e Baroness, escalado para abrir os shows no Brasil. Todavia, a banda americana de sludge/progressive metal é tão experimental quanto os veteranos ingleses. Isso tornou bastante atrativa a experiência de assisti-los antes de Ian Astbury, Billy Duffy e companhia.
O quarteto composto por John Baizley (voz e guitarra), Gina Gleason (guitarra e voz), Nick Jost (baixo) e Sebastian Thomson (bateria) também é muito amarradinho. É comum que a dupla de guitarristas faça solos em dobras e o instrumental seja interrompido do nada para finalizar canções, em claros sinais de entrosamento.
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Mas o charme não está apenas aí. O repertório do Baroness, grupo que já conta com seis álbuns lançados, é do tipo que cativa e gera curiosidade conforme seu desenrolar. O início do show, com “Last Word” e “Under the Wheel”, parecia de fato um pouco truncado. A partir de “A Horse Called Golgotha”, tudo parece fluir melhor, a ponto de a plateia mais contemplar do que interagir com a performance — e levar Baizley a pedir por reações mais entusiasmadas.
Faixas como “Shock Me”, “Chlorine & Wine” e a trinca de encerramento com “Tourniquet”, “Isak” e “Take My Bones Away” se provaram como alguns dos destaques, suficientemente fortes para converter uma série de fãs que estavam ali apenas pelo The Cult e, ao fim, aplaudia bastante o grupo. Nada mal para uma atração encaixada na turnê apenas semanas antes de sua realização.
Setlist — Baroness:
- Last Word
- Under the Wheel
- A Horse Called Golgotha
- March to the Sea
- Shock Me
- Chlorine & Wine
- Swollen and Halo
- Tourniquet
- Isak
- Take My Bones Away
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