Apesar de especulações e depoimentos, cantor revelou ter se inspirado em série de casos que ele presenciou ao longo da carreira
Publicado em 15/10/2024, às 08h00
Algumas músicas são tão vívidas em suas narrativas a ponto de fazer o ouvinte acreditar no seu conteúdo — mesmo que sejam ficcionais. Um dos exemplos mais notórios disso é “Billie Jean”, megahit de Michael Jackson alvo de teorias até os dias de hoje.
A canção presente no álbum Thriller (1982) capturou a imaginação coletiva do público com uma letra paranoica que cita uma pessoa de mesmo nome do título. Ao longo dos anos, porém, a história ganhou mais contornos.
O biógrafo do cantor, J. Randy Taraborrelli, disse no livro Michael Jackson: The Magic and the Madness que havia uma pessoa específica por trás da composição: uma mulher que supostamente lhe enviou cartas em 1981 alegando ter um filho com o astro. Todavia, os dois nunca teriam se conhecido.
+++LEIA MAIS: Michael Jackson ainda era virgem quando namorou Lisa Marie Presley, revela livro
É dito que, inicialmente, Michael ignorou as correspondências, mas ficou perturbado à medida que a fã se tornava mais agressiva, o acusando de ignorar seu filho. Supostamente, a mulher chegou a invadir a casa do músico, que confidenciou o acontecimento a Quincy Jones.
Em depoimento ao livro Michael Jackson: The Magic and the Madness, o produtor contou:
Michael disse que era sobre uma garota que pulou a cerca de sua casa e quando ele acordou, ela estava deitada à beira da piscina de roupa de banho e óculos escuros… e Michael me falou que ela o acusou de ser pai de um dos seus gêmeos.”
Entretanto, Michael Jackson afirmou que não existia uma Billie Jean em particular. A inspiração por trás da letra, segundo escreveu em sua autobiografia, Moonwalk (via site Igor Miranda), foi uma série de casos envolvendo seus irmãos ao longo da carreira.
O cantor, que nos deixou em 2009, escreveu:
Nunca houve uma ‘Billie Jean’ real. (Excetuando aquelas que vieram depois da canção.) A garota da canção é uma colagem de pessoas que nos têm assediado ao longo dos anos. Esse tipo de situação aconteceu com alguns de meus irmãos e eu costumava ficar realmente espantado com aquilo. Não conseguia entender como aquelas garotas podiam dizer que estavam com o filho de alguém na barriga quando aquilo não era verdade. Não posso imaginar mentir a respeito de algo assim.”
“Billie Jean” era uma das canções preferidas de Michael Jackson durante as gravações de Thriller. O artista chegou a brigar com Quincy Jones para manter a parte instrumental que abre a faixa — considerada longa para um hit de rádio —, pois aquele trecho lhe fazia querer dançar.
+++LEIA MAIS: Como era Michael Jackson longe dos holofotes, segundo Eddie Murphy
Entretanto, sua obsessão com a música em questão quase lhe custou a vida. Em sua autobiografia, Moonwalk, Michael descreveu que estava tão concentrado na composição a ponto de não notar uma tragédia iminente:
Um dia, durante uma pausa nas gravações, eu estava dirigindo pela Ventura Freeway com Nelson Hayes, que trabalhava comigo na época. ‘Billie Jean’ estava na minha cabeça e era tudo no que conseguia pensar. Estávamos saindo do viaduto quando um garoto numa moto encosta junto de nós e fala: ‘seu carro está pegando fogo’. De repente notamos a fumaça, paramos no acostamento e a parte de baixo do Rolls-Royce inteira estava em chamas. Aquele garoto provavelmente salvou nossas vidas. Se o carro tivesse explodido, nós teríamos morrido. Mas eu estava tão concentrado nessa melodia na minha cabeça que nem pensei nessas possibilidades horríveis até bem depois.”
Felizmente, Jackson viveu o suficiente para lançar “Billie Jean” e transformá-la em um sucesso. O segundo compacto de Thriller tornou-se o single mais vendido da carreira do artista, com mais de 10 milhões de cópias comercializadas somente nos Estados Unidos. Além da terra natal do cantor, atingiu o topo das paradas de outros nove países, incluindo Austrália, Canadá, Itália, Espanha e Reino Unido. Por meio dela, Michael ainda introduziu o moonwalk, seu passo de dança mais conhecido.
Colaborou: Pedro Hollanda.
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e pós-graduado em Jornalismo Digital. Desde 2007 escreve sobre música, com foco em rock e heavy metal. Colaborador da Rolling Stone Brasil desde 2022, mantém o site próprio IgorMiranda.com.br. Também trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, site/canal Ei Nerd e revista Guitarload, entre outros. Instagram, X/Twitter, Facebook, Threads, Bluesky, YouTube: @igormirandasite.