“TOTALMENTE IRRELEVANTE”

A dura crítica de Andreas Kisser a regravações de Sepultura por Max e Iggor Cavalera

Ex-membros resolveram lançar novas versões dos três primeiros trabalhos da banda: o EP Bestial Devastation e os álbuns Morbid Visions e Schizophrenia

Igor Miranda (@igormirandasite)

Publicado em 10/01/2025, às 12h49
Andreas Kisser, guitarrista do Sepultura - Foto: Elsie Roymans / Getty Images
Andreas Kisser, guitarrista do Sepultura - Foto: Elsie Roymans / Getty Images

Nos últimos anos, os irmãos Max e Iggor Cavalera trabalharam em regravações de materiais do Sepultura, banda que cofundaram e integraram no passado. O EP Bestial Devastation (1985) e os álbuns Morbid Visions (1986) e Schizophrenia (1987) ganharam novas versões, sob o argumento de que a qualidade dos registros originais não era tão boa, dada a falta de recursos para investir em bons estúdios e a ausência de tecnologias no Brasil.

A ideia não soou bem para Andreas Kisser, guitarrista que segue fazendo parte do grupo. Em entrevista a Zé Luiz e Bebé Salvego para o programa Uol No Tom, o músico definiu a iniciativa como “totalmente irrelevante”, “sem sentido”, “valor artístico zero”, “desrespeitoso”, “triste” e “um desserviço”.

Inicialmente, conforme transcrição da Rolling Stone Brasil, Kisser afirmou:

“No final das contas, se eles estiverem curtindo, whatever. Quem se importa com a minha opinião? Mas acho muito fraco artisticamente. Acho totalmente irrelevante e sem sentido nenhum. Principalmente para um cara como o Max, que diz que fez tudo sozinho, que é o cara mais criativo do mundo, 'fiz isso e aquilo'. Chega num momento, perde tempo e criatividade para fazer coisas que fizemos 30, 40 anos atrás, com um som diferente. Valor artístico zero. Não tem sentido nenhum em fazer isso.”
Max Cavalera em 2023 (Foto: Per Ole Hagen / Redferns)
Max Cavalera em 2023 - Foto: Per Ole Hagen / Redferns

Andreas mencionou o The Troops of Doom, banda formada por Jairo Guedz — primeiro guitarrista do Sepultura, que gravou Bestial Devastation e Morbid Visions — como uma iniciativa mais interessante. Guedz presta homenagem ao passado do grupo resgatando a sonoridade da época e fazendo algumas versões, mas sem abdicar de material inédito, nem regravando discos completos.

“O que faz o Troops of Doom, banda do Jairo, primeiro guitarrista do Sepultura, faz aquilo honestamente. Inclusive, o Troops saiu primeiro. Depois o Max e o Iggor fizeram uma cópia do Troops of Doom. O Troops of Doom faz uma homenagem a essa época com som novo, original, e algumas versões daquela época onde o Jairo também atuou como compositor. Muito mais legítimo. Uma proposta nova, de hoje. Não simplesmente explorar uma parte da história só porque uma tecnologia tem um som um pouco melhor.”

“Muito desrespeitoso”

Na opinião de Andreas Kisser, Max e Iggor Cavalera — que saíram do Sepultura respectivamente em 1996 e 2006 — agiram de modo “muito desrespeitoso” com o próprio legado. O guitarrista exaltou a relevância do lançamento original de Schizophrenia, seu primeiro álbum com a banda.

“Acho muito desrespeitoso. Em 1987, nos dedicamos muito para fazer o Schizophrenia, foi meu primeiro disco com o Sepultura. Trouxe todas as minhas ideias. Mudamos o conceito das letras, trouxe as minhas letras. Não estava mais falando de Satanás e Cristo, mas do que vivemos hoje infelizmente: ansiedade, crise de pânico, suicídio, esquizofrenia, pressão da sociedade. Começamos a falar disso. Eram as minhas letras. Fatos históricos, como em ‘From the Past Comes the Storms’. Essa coisa do neonazismo que estamos vendo hoje.”

Em seguida, ele completou, tentando encontrar explicação para a atitude dos ex-colegas:

Schizophrenia é um marco. O processo que eles fizeram hoje é irrelevante no aspecto histórico da banda. É mais para eles terem alguma diversão e algum trocado, talvez. Realmente, é triste. Acho que fazem um desserviço ao próprio passado.”
Sepultura em 1996: (D-E) Igor Cavalera, Andreas Kisser, Paulo Xisto Jr e Max Cavalera
Sepultura em 1996: (D-E) Iggor (à época Igor) Cavalera, Andreas Kisser, Paulo Xisto Jr e Max Cavalera - Foto: Mick Hutson / Redferns

Convite para show final

Ainda assim, o Sepultura tem a intenção de contar com Max e Iggor Cavalera — bem como todos os ex-integrantes — para participar da turnê de despedida Celebrating Life Through Death. Ao que tudo indica, a ideia é promover uma reunião no último show, previsto para São Paulo em 2026.

“Temos o planejamento de convidar todos que foram parte da banda. A ideia é celebrar. Não quero sentar na mesa e discutir: ‘ó, Max, você estava errado e eu estava certo’. Isso é irrelevante, não vai levar a lugar nenhum. Ele tem o ponto de vista dele, eu tenho o meu. A gente faz os nossos livros biográficos e fala, aí cada um acredita no que quiser.”

O que diz Max Cavalera sobre regravações

Em vídeo de divulgação, Max Cavalera comentou a ideia de oferecer uma regravação a Schizophrenia. Indiretamente, também falou sobre os outros dois trabalhos, Bestial Devastation e Morbid Visions. Além de Max (voz e guitarra) e Iggor (bateria), as novas empreitadas contaram com Travis Stone (Pig Destroyer) também na guitarra e Igor Amadeus Cavalera, filho de Max, no baixo.

O frontman afirmou, com transcrição do site IgorMiranda.com.br:

Schizophrenia! A última peça do quebra-cabeça da trilogia! Nós nunca estivemos felizes com o som, esses discos foram feitos em estúdios brasileiros de m*rda quando éramos garotos. E da minha parte, como compus a maior parte de todos esses discos, eu queria mostrar ao mundo o quão poderosas essas músicas são, o quão poderosos esses álbuns são.”

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