Barão Vermelho fala à RS sobre show no Best of Blues and Rock, Cazuza, novidades e mais
Banda se apresentará com Dave Matthews Band, Richard Ashcroft e Paula Lima no segundo dos quatro dias do festival em São Paulo
Igor Miranda (@igormirandasite)
Publicado em 15/05/2025, às 12h06
Para além de atrações internacionais de peso, o Best of Blues and Rock preparou uma seleção forte e multigeracional de artistas brasileiros para sua décima segunda edição, novamente no Parque Ibirapuera, em São Paulo. Dentre os nomes nacionais anunciados, o que está em atividade há mais tempo é o Barão Vermelho. A lendária banda de b-rock toca no dia 8 de junho, segundo dos quatro dias de evento, junto a Dave Matthews Band, Richard Ashcroft e Soul Lee — Paula Lima canta Rita Lee.
O tecladista Maurício Barros e o baterista Guto Goffi, únicos integrantes originais remanescentes do grupo fundado no início da década de 1980, estão empolgados. Em entrevista à Rolling Stone Brasil, os músicos — que completam a formação com Rodrigo Suricato (voz e guitarra) e Fernando Magalhães (guitarra) — celebraram a oportunidade não apenas de dividir o palco com outros grandes artistas como, também, de apresentar sua nova turnê, “Do Tamanho da Vida”. Barros, em especial, teceu elogios a um artista específico de seu dia:
“Há alguns anos assisti a um show do Richard Ashcroft em Buenos Aires [nota: certamente em 2016, única ocasião em que o cantor se apresentou na Argentina] e foi maravilhoso. Curto o trabalho dele desde a época do The Verve e acompanho seus álbuns solo também.”
O espetáculo “Do Tamanho da Vida” foi introduzido ao público na edição mais recente do Rock in Rio, em setembro último. Como título, usa o mesmo nome da canção lançada, também em setembro, a partir de um poema deixado por Cazuza, vocalista original falecido em 1990. O setlist deve trazer esta faixa junto à verdadeira montanha de clássicos construída pelo Barão ao longo das décadas e, segundo Maurício, até mesmo “alguns blues que nem sempre tocamos”. Guto complementa:
“Temos esse repertório extenso, que foram trilha sonora dessas últimas quatro décadas no Brasil — uns tempos mais e outros menos, mas temos essa representatividade de tempo. Acredito que o repertório valorize todas essas vitórias.”

Cazuza e um respeito “do tamanho da vida”
Sobre a música que batiza a excursão, Maurício Barros destaca que sua ideia surgiu a partir de um encontro em que Lucinha Araújo, mãe de Cazuza, revelou a existência de letras inéditas do filho. Após conferir todo o material, o quarteto escolheu a composição que deu origem a “Do Tamanho da Vida”. “E ainda ganhamos o Prêmio Multishow de Melhor Música de Rock”, celebrou o tecladista. Goffi, por sua vez, reflete:
“Ter feito essa parceria com o Cazuza nos dias de hoje, já na terceira formação da banda, demonstra que todos que já passaram pelo Barão têm lugar no nosso coração. Sempre vamos curtir tocar músicas do Cazuza, do [vocalista e guitarrista Roberto] Frejat, do Dé [Palmeira, baixista], a turma que deixou coisas boas no nosso repertório. A letra dessa surgiu de um poema dele chamado ‘As Moças do Centro’, só que extraímos um pedaço da letra que conseguiu tirar a música só desse universo da prostituição, que era o que ele propunha na letra a princípio. Ficou mais abrangente.”
De fato, o Barão Vermelho tem a preocupação de homenagear e demonstrar respeito aos ex-integrantes durante os shows. Seu repertório ao vivo inclui não apenas canções das fases anteriores da banda, como, também obras de seus dois ex-vocalistas em carreira solo — no caso de Frejat, pelo fato de Barros ter trabalhado com ele nos álbuns Amor pra Recomeçar (2001), Sobre Nós Dois e o Resto do Mundo (2003) e Intimidade entre Estranhos (2008).
Tanto Maurício quanto Guto ficaram impressionados ao se darem conta de que, em julho, a morte de Cazuza completa 35 anos. “O tempo não para! De fato, ele se foi muito cedo. Uma pena. Mas suas letras continuam relevantes e atuais. O seu legado é sua obra ser atemporal! Desde o primeiro disco do Barão até seus trabalhos solo”, comenta o tecladista, com o seguinte complemento do baterista:
“É assustador lembrar que ontem estava ao lado da pessoa e agora não está mais. O tempo é devorador de todos nós. Cazuza colocou uma ‘coisinha’ em português no rock. Não que o rock antigamente não tivesse bons letristas brasileiros, já tínhamos tido Raul Seixas, Paulo Coelho, Rita Lee. Mas somos pós-Mutantes e os Mutantes cantavam ‘yeah, yeah, yeah’, enquanto que, com Cazuza, era ‘é, é, é’, mandava o ‘yeah’ para o espaço. Os bons poetas sabem como fazer o bom uso da palavra. No Barão, era raro você pegar alguma letra que não tenha alguma mensagem boa. Cazuza abriu nossa porta. Foi nosso letrista guru. Depois, tentamos continuar, não imitando, mas sabendo o valor da poesia marginal e de ‘ser direto’ no rock, sem muita metáfora, sem ser prolixo. Aprendemos com ele.”
Presente e futuro
Nem só de passado vive o Barão Vermelho, porém. Desde 2017 — ou seja, há quase uma década — a banda segue com Rodrigo Suricato nos vocais e guitarra, numa combinação que, além do single “Do Tamanho da Vida”, rendeu o álbum de inéditas Viva (2018) e os discos de regravações #BarãoPraSempre (2018) e Barão 40 (2022). Fora os incontáveis shows, incluindo participações em festivais como o já citado Rock in Rio, seu “irmão” paulistano The Town e, claro, o vindouro Best of Blues and Rock.
Mauricio Barros é taxativo ao comentar qual considera ser a grande característica do Barão atual:
“Poucas bandas no mundo conseguiram emplacar três cantores ao longo da carreira. Nessa fase atual, eu destacaria nossa persistência e também a alegria de estarmos tocando esse repertório que construímos ao longo de décadas.”
Sob a mesma ótica, Goffi elabora:
“Te desafio a mostrar, depois de anos de carreira, um grupo que não depende só de uma pessoa, por mais forte que ele seja. Cazuza, com aquela força toda, saiu do grupo e continuamos com o Frejat. Demos aquela moral para ele começar a cantar, e ele mostrou que estava firme para seguir liderando a banda. Com a saída dele, acreditamos que ainda havia coisas a serem feitas. Chamamos o Rodrigo Suricato e essa formação deu certo. Conseguimos mostrar a nossa música, que sempre foi a mesma. A força de uma banda está, justamente, no coletivo.”
E “tem mais” vindo aí. O baterista garante a existência de planos para gravar mais algumas músicas além de “Do Tamanho da Vida” e lançar um EP. O problema é, em suas palavras, “arrumar tempo para compor”. Ele explica:
“Combinamos também que essa parte autoral da formação nova sempre será feita pelos quatro, para chegarmos na hora e conseguirmos uma parceria coletiva e ter características dos quatro nas músicas. No disco Viva tem uma assim, a ‘Eu Nunca Estou Só’. Gosto muito da parte de letra e comentei com a banda que achava que deveríamos fazer juntos, para podermos ter um direcionamento de temática e de como se escreve, para não ficar uma coisa muito diversa, como aconteceu no Viva.”
Já o tecladista não se mostrou tão animado para disponibilizar material inédito, devido a, também em suas palavras, “forma que a música é consumida hoje em dia, com tantas canções sendo lançadas a cada semana”. Ele pondera:
“Fica mais difícil ter a atenção do público e até da mídia. Por isso, muitas vezes não compensa todo o investimento e trabalho para gravar um álbum. Por este motivo muitos artistas têm optado pelo formato do single. Até porque, na hora de montar o roteiro do show, não tem como deixar de fora os grandes sucessos. Mas não temos nada pronto ainda para lançar em breve.”
No entanto, nem mesmo para Maurício as portas para material inédito estão fechadas. Segundo ele, a prioridade está em continuar a percorrer o país com a turnê, mas a ideia de lançar novidades será amadurecida com o desenrolar dos meses.
Serviço — Best of Blues and Rock 2025
Local: Parque Ibirapuera, São Paulo
Ingressos:Eventim
Lineup:
- Sábado, 7 de junho: Dave Matthews Band, Richard Ashcroft, Cachorro Grande, Vitor Kley
- Domingo, 8 de junho: Dave Matthews Band, Richard Ashcroft, Barão Vermelho, Soul Lee: Paula Lima canta Rita Lee
- Sábado, 14 de junho: Alice Cooper, Black Pantera, Charlie Brown Jr Marcão Britto & Thiago Castanho
- Domingo, 15 de junho: Deep Purple, Judith Hill, Hurricanes
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