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Fedido? A curiosa primeira impressão de James Hetfield sobre Lars Ulrich

Líderes do Metallica tinham origem cultural e familiar muito diferentes, mas deram certo no âmbito artístico

Por Igor Miranda (@igormirandasite) Publicado em 17/04/2023, às 16h53

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Lars Ulrich e James Hetfield (Getty Images)
Lars Ulrich e James Hetfield (Getty Images)

Uma das parcerias mais duradouras da história do heavy metal é a de James Hetfield (voz e guitarra) e Lars Ulrich (bateria). Os dois formaram juntos em 1981 o Metallica, banda que pode ser citada como a maior de seu estilo, tendo em vista os números impressionantes de vendas de discos e ingressos para shows. Nunca romperam, mesmo com as dificuldades antes e depois que a fama foi conquistada.

Hetfield e Ulrich têm origens bem distintas enquanto pessoas. O primeiro, americano nascido em uma cidade próxima a Los Angeles, é filho de um motorista de caminhão e de uma cantora de ópera. O pai se tornou ausente após divorciar-se da mãe quando o futuro músico tinha 13 anos - e três anos depois, ela morreu de câncer rapidamente ao recusar tratamento devido à crença na chamada Ciência Cristã. Muitos desses traumas estão explícitos nas letras de músicas do Metallica.

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Já o segundo, dinamarquês de boa condição financeira que emigrou para os Estados Unidos na juventude, é filho e neto dos bem-sucedidos tenistas Torben e Einer Ulrich, respectivamente. Por conta disso, esperava-se que ele se dedicasse também ao esporte, mas ao assistir a um show do Deep Purple tendo apenas 9 anos de idade, sua vida mudou: ele queria se tornar um astro do rock. E assim o fez.

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Origens muito diferentes, certo? Mesmo assim, a parceria deu certo - mas não sem antes alguns estranhamentos.

James Hetfield sobre ter conhecido Lars Ulrich

Em entrevista de 2009 à Classic Rock, James foi bem sincero ao descrever sua primeira impressão sobre Lars, a quem conheceu ainda nos tempos de colegial. Inicialmente, contou como o colega ainda não era um bom instrumentista, mas desejava seguir na música profissionalmente mesmo assim.

Lars Ulrich e James Hetfield (Getty Images)
Lars Ulrich e James Hetfield (Getty Images)

“Eu tocava guitarra com um amigo e tentava montar uma banda chamada Phantom Lord. Respondemos a um anúncio de Lars no jornal e nos conhecemos pessoalmente. Ele montou a bateria e não era muito bom, mas tinha motivação e conhecimento. Tinha o ímpeto e as aspirações que eu tinha.”

O frontman do Metallica, então, foi convidado a comentar sobre as diferenças culturais entre os dois. Até o odor exalado pelo baterista foi abordado nessa resposta.

“Extremamente diferentes. Além de ele não tocar bem na época, saíam alguns cheiros diferentes dele [risos]. O estigma de ser europeu é que lá não se fabrica sabão e ninguém toma banho. Além disso, a casa dele tinha uma vibração diferente. Muito amigável e aberta. Minha casa era muito elitista e fechada. Se você não acreditasse em nossa religião... não recebíamos muitas visitas. A casa de Lars era o oposto. Bem hippie, bem do tipo ‘chega mais’.”

Outro ponto destacado por James foi a condição financeira de Lars, que o permitia ter uma vasta coleção de discos. O baterista também era filho único, o que facilitava na intenção de ter tudo o que queria.

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“Eu entrei e não acreditei. Eu tinha a minha pequena pilha de discos, enquanto ele tinha uma parede inteira no quarto repleta de coisas. Então eu comecei a gravar fitas a partir de tudo que ele tinha.”

Lars Ulrich sobre ter conhecido James Hetfield

Em outra entrevista, Lars Ulrich também revelou suas impressões ao ter conhecido James Hetfield. No ano de 2018, ao falar com o jornalista Jan Gradvall (via Blabbermouth), o baterista relembrou inicialmente que o objetivo de sua mudança para os Estados Unidos era se transformar no 2º jogador de tênis de uma escola chamada Corona Del Mar - à época, ele estava entre os 10 melhores tenistas da Dinamarca.

Lars Ulrich e James Hetfield (Getty Images)
Lars Ulrich e James Hetfield (Getty Images)

“Quando tentei entrar para o time da escola, eu não fiquei nem entre os sete melhores. Então, todo esse sonho do tênis acabou e a música estava esperando para tomar conta. Havia uma seção de músicos no jornal The Recycler, então coloquei o anúncio: ‘Baterista procurando por outros fãs de metal para começar uma banda. Influências: Diamond Head, Angel Witch, Tygers of Pan Tang e Venom’. Aí alguns caras me ligaram falando: ‘eu curto heavy metal, gosto de Styx, Kansas e Van Halen’. Aí eu perguntava se eles sabiam quem era o Diamond Head. Tentei tocar com alguns desses caras e não deu certo.”

Depois de algum tempo, um cara chamado Hugh Tanner ligou e perguntou se poderia levar um amigo. Era ninguém menos que James Hetfield, mas com uma personalidade muito diferente da que o mundo conheceu.

“Ele era muito tímido, introvertido, mal olhava nos olhos, custava a conversar. Mas havia alguma conexão quando tocávamos. [...] Era junho de 1981, então passei o verão na Europa e passei algum tempo na Inglaterra com o Diamond Head e Motörhead. Quando voltei à América, em outubro daquele ano, liguei para aquele James Hetfield, porque havia uma vibe, uma conexão. Perguntei se ele queria se juntar e ver se havia a chance de fazermos algo. E aqui estamos nós.”

A diferença cultural entre ambos também foi narrada por Ulrich. Especialmente no âmbito familiar, os dois eram muito diferentes. A música os uniu.

“Venho de uma cultura europeia, fui filho único, muito próximo aos meus pais, que eram meus melhores amigos. Ele era o exato oposto: o clássico rebelde americano, tipo: ‘f*dam-se meus pais, a sociedade e Deus’. Acho que o pai dele abandonou a família. Foi criado pela mãe, que teve câncer quando ele tinha 14 ou 15 anos. E por causa da crença que tinham, não podiam procurar ajuda médica. Durante um ano e meio, ele viu a mãe morrer. Eu o conheci, depois de um ano, talvez ele tivesse 17 ou 18. Ele era muito tímido e estranho, mas nos conectamos e ouvíamos discos do Tygers of Pan Tang, Girlschool, Saxon e Angel Witch, que ele amava.”