Foreigner no Brasil: Lou Gramm fala à RS sobre show, Hall of Fame e hit que até Edson e Hudson regravaram
Banda americana faz apresentação única em São Paulo e agora todos sabem quem irá cantar: Luis Maldonado, com participação do vocalista original
Igor Miranda (@igormirandasite)
Fãs de Foreigner no Brasil estiveram confusos nos últimos meses. Em fevereiro, um show da banda americana de arena rock/AOR no Espaço Unimed, em São Paulo, foi anunciado para 10 de maio — mais especificamente, este sábado. Até aí, normal; só um pouco surpreendente, visto que o grupo só veio ao país até hoje em 2006 e 2013. O que chamou atenção, mesmo, foi o anúncio de que Lou Gramm viria junto.
Hoje com 75 anos de idade, o vocalista original está fora da formação desde 2003. À época, decidiu cair fora porque estava em atrito com o guitarrista e fundador, Mick Jones, e sentia sua criatividade ser “suprimida”. Pelo que, especificamente? Ele não dizia na época, menos ainda agora, pois evita conflito com Jones, atualmente com 80 anos e afastado das atividades do grupo em função de um diagnóstico de Parkinson. O cantor garante ser também um compositor e cita isso como uma das razões para o rompimento. Fato é que, assim como o próprio Foreigner, lançou apenas um álbum de inéditas desde a separação.
A essa altura, porém, nada mais importa. Gramm está, de fato, realizando sua primeira turnê com a antiga banda em mais de duas décadas, embora tenha se reaproximado e feito participações pontuais em shows nos últimos sete anos.

A confusão, porém, vem do fato de o Foreigner ter um cantor efetivo: Kelly Hansen, na vaga desde 2005. Então, quem cantará no Brasil os hits como “I Want to Know What Love Is”, “Juke Box Hero”, “Cold as Ice”, “Feels Like the First Time”, “Urgent”, “Waiting for a Girl Like You” e tantos outros? Gramm? Hansen?
A resposta é ainda mais surpreendente: Lou conta à Rolling Stone Brasil que ficará a cargo de “quatro ou cinco músicas” do set a ser executado em São Paulo. O restante estará sob responsabilidade de Luis Maldonado, jovem guitarrista que faz parte da formação desde 2021, mas assumiu os vocais para esta turnê — que já passou por México, Equador, Colômbia e Chile e também estará na Argentina — porque, também de acordo com Gramm, Hansen “se casou recentemente”.
“O Luis vai cantar a maioria das músicas. Kelly não vai estar lá porque se casou recentemente e acho que ele está passando um tempo com a nova família. Como é a penúltima turnê do Foreigner como o conhecemos, me convidaram para participar e eu gostei da oportunidade. Temos uma cara diferente e uma mistura diferente do Foreigner, acho que vai ser muito emocionante.”

Lou, no fim das contas, é o único elo entre o Foreigner “clássico” e o atual. A banda formada em 1976 ficou extremamente popular entre as décadas de 1970 e 1980, mas já não conta com mais ninguém daqueles tempos áureos. Gramm, como destacado, é apenas um convidado. Jones, também conforme apontado, está afastado das atividades. Os demais integrantes — Hansen, Maldonado, o baixista e diretor musical Jeff Pilson, o tecladista Michael Bluestein, o guitarrista Bruce Watson e o baterista Chris Frazier — todos entraram já no século 21. Pilson é quem tem currículo mais pesado: integrou por décadas o Dokken, grupo de hard rock/heavy metal também famoso nos anos 1980. Mas zero conexão com os músicos que fizeram álbuns como Double Vision (1979), Head Games (1979), 4 (1981) e Agent Provocateur (1984).
Para os envolvidos, porém, não importa. Ok, talvez um pouco, já que a participação mais recorrente de Lou Gramm serve para dar alguma validação a uma banda que já não traz mais qualquer integrante original ou clássico. Mas não impede que as atividades continuem mesmo após uma anunciada turnê de despedida — que nunca foi finalizada. O show no Brasil é um dos vários planos futuros do grupo. Gramm especifica outros:
- Lançamento de versões das músicas em espanhol, a começar por “Urgent”, já disponível no streaming — Lou comenta: “Acho que foi ideia dos agentes, já que o Foreigner estava vindo para a América do Sul, Luis Maldonado, que fala espanhol fluentemente, cantaria algumas das versões; ele também é um ótimo cantor, então cantou duas ou três músicas em espanhol, e acho que o público ficará positivamente surpreso”.
- Mixagens dos álbuns clássicos em Dolby Atmos (tecnologia de áudio imersivo que te coloca “para dentro” da música), a começar com 4 — Lou comenta: “Isso é emocionante e acho que também finalizaremos e incluiremos algumas músicas que não entraram no álbum original, já que normalmente entravam 10 faixas e costumávamos gravar umas 13 ou 14”.
- Mais excursões com a própria participação de Gramm, pois, segundo o próprio, “esta é a penúltima turnê do Foreigner como o conhecemos”.
Reconhecimento ao “novo” Foreigner
Todos esses planos são possíveis porque o público segue interessado no Foreigner. Não apenas neles, como em várias bandas do chamado AOR — versão ainda mais radiofônica do que se convencionou a chamar de hard rock —, pois é comum neste segmento seguir com um ou nenhum integrante original. Journey, Toto e Boston são alguns dos que dão aula nesse quesito: continuam porque os fãs querem ouvir as músicas, não importando quem as toque, desde que soe bem.
Lou Gramm, inclusive, reconhece que o público “aceita” melhor a encarnação atual do Foreigner. Ele reflete:
“No auge do Foreigner, a banda original era tão especial, mas o tempo passa, as pessoas mudam, quem estava na banda não está mais. Contudo, para comemorar o 50º aniversário do Foreigner — que está chegando —, deveriam deixar de lado todas as críticas e problemas para honrar o legado da banda, seja Foreigner atual ou original.”

E não se trata apenas de aceitação. Os integrantes mais jovens que comandam as atividades do grupo hoje têm seus méritos. Um deles é, justamente, manter esse catálogo musical relevante. Gramm destaca:
“Acho que o catálogo é muito importante e que nossos números nas paradas e vendas são algo a ser destacado. Acho que o novo Foreigner, que mantém a bandeira e continua se apresentando, teve muito a ver com o fato de estarmos no Hall of Fame agora. Então, eles também merecem algum crédito.”

Uma pena que o diagnóstico de Parkinson impeça que Mick Jones desfrute de um momento de menor atrito entre fãs do velho e novo Foreigner. Lou garante, porém, que o guitarrista está bem de saúde dentro do possível.
“Ele está se saindo bem, mas não está em condições de tocar. Ele está ciente do que estamos fazendo com algumas dessas músicas, tornando-as um pouco mais atuais para lançá-las. Sei que ele acompanha o que está acontecendo e está muito animado. Imagino que ele daria tudo para participar, mas isso simplesmente não vai acontecer.”

Hall da Fama e o mega-hit regravado até por Edson e Hudson
Um dos grandes reconhecimentos deste legado veio no ano passado, quando o Foreigner entrou para o Rock and Roll Hall of Fame. Durante o período de votação, músicos célebres como Paul McCartney, Peter Frampton, Dave Grohl, Slash, Josh Homme, Chad Smith e Jack Black participaram de uma campanha online para o grupo, enfim, receber a homenagem.
Lou Gramm fica de coração quentinho quando se lembra da mobilização de fãs e artistas famosos em prol da banda. Ele comenta:
“Acho que foi uma campanha incrível e significativa. Teve muita gente como Paul McCartney, Peter Frampton e alguns roqueiros famosos que nem sabiam que o Foreigner não estava no Rock and Roll Hall of Fame. Quando pensaram nisso, disseram: ‘Isso está errado, eles precisam e merecem estar lá no Hall of Fame, junto com todos nós’. Acho que essa campanha ajudou a chamar a atenção, mostrando que temos todas as credenciais necessárias para fazer parte e que foi apenas um descuido não estarmos lá ainda.”

De fato, o Foreigner preenche todos os pré-requisitos. Tem até música no clube do bilhão do Spotify: “I Want to Know What Love Is” registra, hoje, 1,08 bilhão de reproduções na plataforma. E, a nível de Brasil, conta com uma marca ainda mais impressionante: segundo o Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad), a canção de 1984 foi a mais executada nas rádios nacionais em toda a década de 2010.
Para esta última estatística, contribuíram bastante as regravações de Mariah Carey e da dupla sertaneja Edson e Hudson — aqui, em releitura para o português e batizada “Foi Você Quem Trouxe”. Convidado a refletir sobre o poder desta baladaça, Gramm diz:
“Foi regravada várias vezes. Acho que Sheena Easton regravou na Austrália. Acho que a ‘Judd filha’ também. Qual é o nome dela? Wynonna Judd! E toda vez que alguém regravava, ela chegava ao primeiro lugar das paradas. Acho que é uma música linda e maravilhosa, cuja mensagem realmente toca as pessoas. E não precisa ser fraca para fazer isso. Ela é poderosa.”
*O Foreigner se apresenta no Espaço Unimed, em São Paulo, neste sábado, 10. Eric Martin (Mr. Big) e Jeff Scott Soto (Journey, Yngwie Malmsteen etc) fazem shows de abertura. Ingressos à venda no site Eventim.
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