“METAL NAS VEIAS”

Max Cavalera defende regravações de Sepultura, criticadas por Andreas Kisser

Vocalista/guitarrista se uniu ao irmão baterista para registrar novas versões dos três primeiros trabalhos da lendária banda brasileira de metal

Igor Miranda (@igormirandasite)

Publicado em 15/01/2025, às 12h18
Max Cavalera em 2023 - Foto: Per Ole Hagen / Redferns
Max Cavalera em 2023 - Foto: Per Ole Hagen / Redferns

Os irmãos Max e Iggor Cavalera surpreenderam ao anunciar, ainda em 2023, que iriam regravar os primeiros trabalhos do Sepultura. Fora da banda respectivamente desde 1996 e 2006, o vocalista/guitarrista e o baterista se juntaram para produzir novas versões do EP Bestial Devastation (1985) e os álbuns Morbid Visions (1986) e Schizophrenia (1987).

Desde o início, eles têm argumentado que a qualidade dos registros originais não era tão boa, dada a falta de recursos para investir em bons estúdios e a ausência de tecnologias no Brasil. Por isso, decidiram promover as regravações — que têm recebido críticas de Andreas Kisser, guitarrista que se juntou ao grupo em 1987 e permaneceu desde então.

Em entrevista à Heavy (via Blabbermouth), Max Cavalera reforçou o ponto de vista. Sem qualquer menção aos comentários de Kisser, o frontman disse que era “uma oportunidade de fazer novamente, mas fazer melhor”.

“A ideia era meio que não consertar os erros, porque acho que os erros foram legais, mas fazer as coisas soarem melhor. Tivemos a chance de ter uma guitarra melhor, um som de bateria melhor e um estúdio melhor, estar cercados por pessoas experientes em metal que sabem como gravar essas coisas. Nenhuma dessas coisas estava disponível quando fizemos esses discos no Brasil. Estávamos por conta própria. Os engenheiros de som não sabiam o que fazer.”

Na opinião do vocalista/guitarrista, as regravações são “a maneira correta” que essas canções foram imaginadas na época. “Era isso que buscávamos em primeiro lugar”, completou ele, apontando ainda que muitas bandas não têm essa mesma oportunidade — “não tentam, ou tentam e falham”.

“[Quando tentam regravar] Elas não mantêm a energia e a raiva do original. Mantivemos tudo isso sob controle. Garantimos que continuasse agressivo. Acho que é por isso que muitas pessoas amam essas regravações, cara. Os fãs adoram as regravações, e elas foram muito bem recebidas no mundo todo.”

Cavalera também foi perguntado se esses primeiros trabalhos do Sepultura teriam sido tão bem recebidos se fossem melhor gravados na década de 1980. Sem dar uma resposta direta, ele refletiu sobre nunca ter recebido qualquer orientação a respeito de como desempenhar o trabalho.

“É tentativa e erro. Essa é a beleza desses discos: estavam cheios de coisas que realmente surgem do nada. Tipo: o que diabos eu estava pensando quando fiz esse riff de guitarra? Mas é lindo. Mostra que mesmo com 14 ou 15 anos de idade, eu tinha aquele metal selvagem nas veias. Agora, mais velho, tenho a chance de revisitar e ainda ter o mesmo prazer com esses álbuns que tinha quando era criança.”

As críticas de Andreas Kisser

Em entrevista a Zé Luiz e Bebé Salvego para o programa Uol No Tom, Andreas Kisser definiu a iniciativa dos irmãos Max e Iggor Cavalera como “totalmente irrelevante”, “sem sentido”, “valor artístico zero”, “desrespeitoso”, “triste” e “um desserviço”. Inicialmente, conforme transcrição da Rolling Stone Brasil, afirmou:

“No final das contas, se eles estiverem curtindo, whatever. Quem se importa com a minha opinião? Mas acho muito fraco artisticamente. Acho totalmente irrelevante e sem sentido nenhum. Principalmente para um cara como o Max, que diz que fez tudo sozinho, que é o cara mais criativo do mundo, 'fiz isso e aquilo'. Chega num momento, perde tempo e criatividade para fazer coisas que fizemos 30, 40 anos atrás, com um som diferente. Valor artístico zero. Não tem sentido nenhum em fazer isso.”
Andreas Kisser - Foto: Elsie Roymans / Getty Images
Andreas Kisser - Foto: Elsie Roymans / Getty Images

Andreas mencionou o The Troops of Doom, banda formada por Jairo Guedz — primeiro guitarrista do Sepultura, que gravou Bestial Devastation e Morbid Visions — como uma iniciativa mais interessante. Guedz presta homenagem ao passado do grupo resgatando a sonoridade da época e fazendo algumas versões, mas sem abdicar de material inédito, nem regravando discos completos.

“O que faz o Troops of Doom, banda do Jairo, primeiro guitarrista do Sepultura, faz aquilo honestamente. Inclusive, o Troops saiu primeiro. Depois o Max e o Iggor fizeram uma cópia do Troops of Doom. O Troops of Doom faz uma homenagem a essa época com som novo, original, e algumas versões daquela época onde o Jairo também atuou como compositor. Muito mais legítimo. Uma proposta nova, de hoje. Não simplesmente explorar uma parte da história só porque uma tecnologia tem um som um pouco melhor.”

Na opinião de Andreas Kisser, Max e Iggor Cavalera — que saíram do Sepultura respectivamente em 1996 e 2006 — agiram de modo “muito desrespeitoso” com o próprio legado. O guitarrista exaltou a relevância do lançamento original de Schizophrenia, seu primeiro álbum com a banda.

“Acho muito desrespeitoso. Em 1987, nos dedicamos muito para fazer o Schizophrenia, foi meu primeiro disco com o Sepultura. Trouxe todas as minhas ideias. Mudamos o conceito das letras, trouxe as minhas letras. Não estava mais falando de Satanás e Cristo, mas do que vivemos hoje infelizmente: ansiedade, crise de pânico, suicídio, esquizofrenia, pressão da sociedade. Começamos a falar disso. Eram as minhas letras. Fatos históricos, como em ‘From the Past Comes the Storms’. Essa coisa do neonazismo que estamos vendo hoje.”

Em seguida, ele completou, tentando encontrar explicação para a atitude dos ex-colegas:

Schizophrenia é um marco. O processo que eles fizeram hoje é irrelevante no aspecto histórico da banda. É mais para eles terem alguma diversão e algum trocado, talvez. Realmente, é triste. Acho que fazem um desserviço ao próprio passado.”

Ainda assim, o Sepultura tem a intenção de contar com Max e Iggor Cavalera — bem como todos os ex-integrantes — para participar da turnê de despedida Celebrating Life Through Death. Ao que tudo indica, a ideia é promover uma reunião no último show, previsto para São Paulo em 2026.

“Temos o planejamento de convidar todos que foram parte da banda. A ideia é celebrar. Não quero sentar na mesa e discutir: ‘ó, Max, você estava errado e eu estava certo’. Isso é irrelevante, não vai levar a lugar nenhum. Ele tem o ponto de vista dele, eu tenho o meu. A gente faz os nossos livros biográficos e fala, aí cada um acredita no que quiser.”

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