LUTA FEMININA

Mulheres na música: apenas 10% dos direitos autorais vão para elas, segundo estudos

Relatórios publicados pela União Brasileira dos Compositores e Escritório Central de Arrecadação e Distribuição expõem desigualdades no setor

Redação

Publicado em 11/03/2025, às 16h56
Mulher tocando violão - H. Armstrong Roberts / Classic Stock / Getty Images
Mulher tocando violão - H. Armstrong Roberts / Classic Stock / Getty Images

A edição 2025 do estudo “Por elas que fazem a música”, lançado pela União Brasileira de Compositores (UBC) e o relatório “Mulheres na Música 2025” (via Mundo da Música), disponibilizado pelo Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad), apresentam um retrato da desigualdade de gênero na indústria musical. Os levantamentos revelam que as mulheres recebem apenas 10% do total de direitos autorais distribuídos no país.

De acordo com o “Mulheres na Música 2025”, dentre os 100 primeiros que mais lucraram com direitos autorais em 2024, apenas 5 são mulheres. O dado reflete um retrocesso, já que, no ano anterior, a porcentagem chegou a 6%.

Entre os anos de 2020 e 2024 o número de mulheres que receberam direitos autorais de execução pública deu um salto. Há cinco anos, eram 22 mil beneficiadas; agora, o novo relatório aponta que são 29 mil.

O “Por elas que fazem a música” aponta que, quando se divide por categoria de distribuição de renda feminina, as autoras têm 73% do total recebido pelas mulheres na UBC. As intérpretes corresponderam a 22,5%, enquanto as músicas executantes levam 2,5% e as produtoras fonográficas 1,5%. As versionistas registraram a menor participação, representando apenas 0,5% da arrecadação.

Em 2024, houve crescimento significativo no registro de obras e fonogramas com participação feminina. O número de cadastros feitos por produtoras fonográficas aumentou 11%, enquanto as obras registradas por autoras e versionistas tiveram ampliação de 10%.

Entre as fontes de arrecadação, os segmentos de Rádio e Show foram os mais rentáveis para as mulheres, cada um representando 19% do total. Em contraste, o setor de Cinema teve a menor participação, correspondente a apenas 0,5% da receita feminina na indústria.

O relatório “Mulheres na Música 2025”  também evidencia as disparidades do setor. Em 2024, a gestão coletiva da música arrecadou R$ 1,5 bilhão, destinando R$ 926 milhões a pessoas físicas. No entanto, somente R$ 75 milhões – o equivalente a 8% – foram repassados para mulheres. Esse percentual se manteve o mesmo em relação a 2023, indicando um aumento no montante total, mas sem progresso na representatividade feminina.

Outro dado presente no estudo refere-se às músicas mais tocadas em shows. Das 100 primeiras, apenas 16 traziam uma mulher com participação no processo criativo. No total, há somente 15 compositoras, que só passam a aparecer na lista a partir da 21ª posição.

66% das mulheres afirmam já ter sido alvo de assédio no mercado da música

A edição de 2025 do “Por elas que fazem a música” também traz um levantamento sobre assédio e discriminação na indústria musical. 76% das mulheres ouvidas afirmam já ter sofrido discriminação de gênero no mercado, enquanto 66% relatam ter sido alvo de assédio no ambiente profissional. 

A maioria das entrevistadas reconhece as disparidades no setor. 97% das entrevistadas acreditam que os homens têm mais oportunidades ou são privilegiados no trabalho em relação às mulheres. Além disso, 90% relataram ter passado por situações em que suas competências foram questionadas unicamente por serem mulheres.

Os depoimentos coletados na pesquisa ilustram a gravidade da situação. Uma profissional, que preferiu manter o anonimato, contou: 

“Um empresário ‘informal’ e eu viajamos para um lançamento musical importante para fazermos networking, e ele chegou ao nível de ter reservado só um quarto para dormirmos juntos após o evento. Eu neguei, claro, e pedi um quarto para mim. Ele implorou na porta do meu quarto. Continuei negando com a maior gentileza. Ele então pegou um táxi na madrugada, foi embora e me deixou no hotel sozinha. Eu fui embora na manhã seguinte, pois teria que pegar um ônibus na rodoviária para voltar pra casa, chorando e arrasada, e acredito que os homens atendentes do balcão tenham achado que eu era uma prostituta, porque nem me olharam na cara quando fiz o checkout.”

Já a técnica de som Jessyca Souza Meireles relatou: 

“Foram várias situações de assédio, vou relatar uma: em determinado trabalho, estava na copa pegando café e um técnico de iluminação me agarrou à força, por trás, e precisei usar de muita força para sair dessa situação. Nada aconteceu com ele e hoje em dia ainda o encontro em eventos.”

A pesquisa “Por elas que fazem a música 2024" está disponível na íntegra no site da UBC. Já o relatório “Mulheres na Música 2025” pode ser acessado no site do Ecad.

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