O caráter social da música do Black Sabbath, segundo Tom Morello
Guitarrista do Rage Against the Machine lembrou algo que muitos não percebem: o heavy metal nasceu com certo caráter político
Igor Miranda (@igormirandasite)
Publicado em 14/05/2025, às 16h13
Nem sempre há uma discussão social em torno do heavy metal, exceto no caso de artistas e bandas do gênero que falam abertamente sobre o tema — e, vale destacar, não são muitos. Mas esse tipo de som pesado nasceu justamente de pessoas que estavam preocupadas — ou melhor, de saco cheio — com o que acontecia em suas épocas de juventude.
Citado como o grande pioneiro do metal, o Black Sabbath ajudou, junto de outras bandas, a desidratar o movimento hippie do fim dos anos 1960. O conceito “paz e amor” é nobre, mas Ozzy Osbourne (voz), Tony Iommi (guitarra), Geezer Butler (baixo) e Bill Ward (bateria), todos vindos de famílias operárias da Inglaterra, acreditavam que essa turma se preocupava demais com alguns assuntos e “de menos” com outros — que, para eles, também eram importantes.
Em 1992, ao documentário Don’t Blame Me Osbourne (via site Igor Miranda), Ozzy explicou melhor o raciocínio:
“Na minha família, éramos eu e outros cinco filhos morando em uma casa de dois quartos. Meu pai trabalhava à noite; minha mãe, de dia. Não tínhamos dinheiro, nunca tivemos carro, raramente tirávamos férias. Daí, ouvimos falar: ‘se você vai a San Francisco, use uma flor no cabelo’ (citação à música ‘San Francisco’, de Scott McKenzie). E pensávamos: ‘o que diabos é San Francisco e que coisa de flor é essa… eu não tenho nem sapato nos meus pés.”
Tom Morello enxerga isso muito bem. O guitarrista do Rage Against the Machine, uma das bandas mais politizadas da seara da música pesada, refletiu ao The Guardian sobre o grande diferencial do Sabbath. Fã declarado, ele está atuando como diretor do show de despedida do grupo, no festival Back to the Beginning, marcado para acontecer em Birmingham no dia 5 de julho.
De forma breve, mas cirúrgica, Morello afirma:
“Black Sabbath é o som de uma classe trabalhadora sem esperança cravando uma estaca no coração da geração ‘flower power’.”
“Flower power”, diga-se, é um slogan justamente utilizado pelos hippies visando a não-violência. Tanto eles quanto o Sabbath protestavam, por exemplo, contra a Guerra do Vietnã, mas de jeitos bem distintos — basta ouvir “War Pigs”, música de Ozzy e companhia, para entender.

Show de despedida com megafestival
O vocalista Ozzy Osbourne, o guitarrista Tony Iommi, o baixista Geezer Butler e o baterista Bill Ward subirão ao palco juntos pela última vez em um festival beneficente, com uma série de artistas e bandas de metal. Veja abaixo a lista de atrações:
- Black Sabbath
- Ozzy Osbourne (solo)
- Metallica
- Guns N' Roses
- Tool
- Slayer
- Pantera
- Gojira
- Alice in Chains
- Halestorm
- Lamb of God
- Anthrax
- Mastodon
- Rival Sons
Convidados adicionais:
- Billy Corgan (Smashing Pumpkins)
- David Draiman (Disturbed)
- Duff McKagan
- Fred Durst (Limp Bizkit)
- Lzzy Hale
- Jake E. Lee
- Jonathan Davis (Korn)
- K.K. Downing
- Mike Bordin (Faith No More)
- Papa V Perpetua (Ghost)
- Rudy Sarzo
- Sammy Hagar
- Slash
- Sleep Token II (Sleep Token)
- Tom Morello
- Wolfgang Van Halen

O adeus ao Black Sabbath
Todos os integrantes originais do Black Sabbath se manifestaram, nos últimos meses, de forma favorável à realização de um último show da banda. O vocalista Ozzy Osbourne, o guitarrista Tony Iommi, o baixista Geezer Butler e até o baterista Bill Ward, deixado de fora da última reunião, toparam uma despedida contando com Ward, visto que a turnê final entre 2016 e 2017 foi realizada com Tommy Clufetos em sua função.
Entre todos os envolvidos, Ozzy Osbourne é quem está mais debilitado. O vocalista sequer conseguiu cantar durante sua recente homenagem no Rock and Roll Hall of Fame, no último mês de outubro.
Diagnosticado com Parkinson, o cantor de 76 anos está com seus movimentos comprometidos após uma queda doméstica sofrida em 2019. O grave tombo promoveu uma piora em sua coluna, operada em 2003 devido a um acidente de quadriciclo. Sua turnê de despedida como artista solo, No More Tours II, precisou ser cancelada em definitivo.
Tony Iommi, 76, foi diagnosticado com um linfoma em 2012. O tratamento foi bem-sucedido e em 2016 ele revelou que o câncer está em remissão, mas ele está sob acompanhamento constante. Diz-se que a aposentadoria do Sabbath foi motivada em especial por sua saúde, visto que as viagens constantes afetam sua imunidade.
Bill Ward, também 76, lida com questões de saúde desde a década de 1990. Em 1998, ele deixou de participar de dois shows do Black Sabbath em função de um infarto. Uma das razões para ter sido desconsiderado da reunião anunciada em 2011 foi o fato de estar fora de forma, de acordo com Osbourne. O cantor disse, em comunicado publicado em 2015, que o colega esteve no hospital por diversas vezes em 2013 e havia passado por uma cirurgia no ombro. Já em 2017, foi internado novamente com problemas cardíacos.
O único a não lidar com problemas de saúde, ao menos publicamente, é Geezer Butler. Todavia, o baixista anunciou há algum tempo sua aposentadoria do mundo da música. Hoje com 75 anos, ele diz que não tem mais a disposição de outros tempos para um recomeço — o qual havia sido tentado com o supergrupo Deadland Ritual.
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