ENTREVISTA

Rodrigo Lima fala à RS sobre Dead Fish no Lolla, turnê especial e próximos planos

Banda faz sua estreia no festival abrindo o palco principal no primeiro dia; depois, embarca em série de 34 shows com setlist único para cada ocasião

Igor Miranda (@igormirandasite)

Publicado em 12/03/2025, às 12h12
Dead Fish - Foto: Lucca Miranda
Dead Fish - Foto: Lucca Miranda

Vai ter hardcore no espaço principal do Lollapalooza Brasil 2025. E logo de cara: o Dead Fish, uma das grandes bandas do gênero no país, inicia os trabalhos do palco Budweiser na sexta-feira, 28, antecedendo apresentações de MC Kayo, Girl in Red, Empire of the Sun e Olivia Rodrigo.

Em outros espaços na data, tocam Rüfüs du Sol, Jão, Fontaines D.C., entre outros. Nos dois dias seguintes, o festival conta com Shawn Mendes, Alanis Morissette, Tate McRae, Benson Boone, Justin Timberlake, Tool, Sepultura, Bush, Foster the People e mais. A extensa programação do evento, que acontece no Autódromo de Interlagos, em São Paulo, pode ser conferida ao fim desta página.

Rodrigo Lima está animado até mesmo com o horário de sua apresentação: das 12h45 às 13h40. O vocalista de 52 anos e único membro fundador remanescente do Dead Fish se descreve como “o velho da matinê” — definição que pouco combina com sua performance enérgica, oferecida ao lado de Marcos Melloni (bateria), Ric Mastria (guitarra) e Igor Tsurumaki (baixo).

Em entrevista à Rolling Stone Brasil, Lima comenta sobre os preparativos não apenas para a participação no Lollapalooza, como também para a vindoura turnê que celebrará os 34 anos de banda — com shows em 34 cidades oferecendo 34 repertórios diferentes. Também há reflexões sobre o momento atual vivido pelo grupo, que ano passado disponibilizou Labirinto da Memória, seu décimo álbum de estúdio.

Confira!

Rolling Stone Brasil entrevista Rodrigo Lima (Dead Fish)

Rolling Stone Brasil: Como está a sua expectativa para este show de estreia no Lollapalooza Brasil?
Rodrigo Lima: “Estou muito feliz de ter sido convidado. O festival já teve Turnstile e outras bandas brasileiras, como Molho Negro, mas é quase inusitado estarmos no lineup. E acho importantíssimo ocupar espaços. Também acho maneirasso abrir o palco logo cedo, porque sou o velho da matinê, que à meia-noite quer estar em casa. E quero ver como funciona o festival, pois nunca fui.”

RS: Vocês tocam no dia da Olivia Rodrigo, Fontaines D.C., Empire of The Sun e Jão. Tem algum artista que você quer assistir especificamente — seja nesse dia ou em algum dos outros?
RL:
“Tem. Já assisti ao Jão uma vez, no Recife, e achei legal. Quero ver o Tool — deixo aí a mensagem para os organizadores do festival. Uma amiga nossa que trabalhava no podcast que fazíamos para o Terra, o Sem Ensaio, mostrou uma mina da Noruega que esqueci o nome, mas achei muito interessante, legal pra cacete [nota da edição: é provável que Rodrigo esteja se referindo à artista Girl in Red]. E quero ver a Olivia Rodrigo, que é o top do top do pop para essa geração. Quero ver como é que funciona ao vivo, pois ela fala para a geração dela. Lembrando que não faço participação nenhuma, apesar de ela se chamar Olivia Rodrigo. [Risos]”

RS: E o que vocês estão preparando em termos de setlist?
RL: “Estamos em uma celebração de 34 anos onde tentamos passar pela carreira toda, já que, nos 35 anos, devemos lançar algo mais específico. Mas para festival, temos que mostrar o que está rolando agora, que é o Labirinto da Memória. Acredito que vai intrigar muito mais o cara mais novo. É legal tocar uma música de 20 ou quase 30 anos atrás, mas também mostramos que seguimos produzindo, não é uma banda que virou uma estátua de si mesma.”

RS: É interessante mostrar todos os períodos, porque são 10 álbuns lançados. Até me impressionei ao perceber que são 10 álbuns em 34 anos, uma alta produtividade. Seria um desperdício deixar parte disso de lado para focar só nos discos antigos, especialmente porque vocês lançaram dois álbuns muito comentados nos últimos seis anos.
RL:
“Acho o Ponto Cego (2019) um álbum importantíssimo até hoje. Gostaríamos que ele estivesse datado, mas não está. E o Labirinto da Memória furou um pouco da nossa bolha cética, pois fala de memória, território, infância, ditadura militar, de aqui e agora. Por isso a importância de focar nesse álbum para um festival. Em um show só nosso, há mais coisas.”

RS: No passado, tocar mais cedo em festival foi até tema de boicote de artistas há 20, 30 anos. Gerava muito debate. Hoje é mais encarado com naturalidade, mas os festivais também agregam algumas atrações brasileiras em horários mais tarde na medida do possível. Nesta edição, por exemplo, Jão e Sepultura tocam mais tarde. Do lado do artista, como você enxerga isso?
RL: “Puxando a sardinha para o meu sindicato: acho respeitoso terem artistas e bandas tão bons e grandes quanto Sepultura e Jão no chamado melhor horário — não sei se concordo tanto — ou horário mais cheio. Estou pronto para tocar em qualquer horário, apesar de não precisar estar tanto calor. Vou chegar meio-dia e vou destruir aquele palco: vou chutar retorno, vou dar o meu melhor, tendo 10 ou 10 mil pessoas. Mas acho que os festivais se atentaram para isso: respeitar a relevância do artista local e não olhar só para fora. Da nossa fronteira para dentro, tem milhões de coisas muito geniais.”

RS: Até em outras edições recentes tem acontecido isso. No ano passado, o Titãs fechou um dos dias. Também teve Tribalistas [tocando à noite em 2019]. Tem mudado.
RL: “Sim. Já deveria ter mudado há algum tempo. Também aconteceu no Rock in Rio: quando tocamos, o Sepultura tocou em um horário sensacional. É importante. E também é importante trazer bandas mais novas. Acho que estão fazendo o papel deles, está legal a curadoria.”

RS: Vocês estão celebrando em turnê 34 anos, um “ano quebrado”, mas tem um gancho diferente: 34 shows em 34 cidades diferentes, cada uma com um repertório exclusivo. Como surgiu essa ideia e como está a organização?
RL: “Não sei quem teve essa ideia patética de inventar 34 setlists [risos]. O André [Pastura, empresário e produtor] está aí, acho que a ideia é dele. Mas será uma forma de instigar a banda a revisitar material que não é tocado há 10 anos. Principalmente os três primeiros álbuns: Sirva-se (1998), Sonho Médio (1999) e Afasia (2001). É trabalhoso, pois poderíamos ficar dentro de uma estrutura com Ponto Cego, Labirinto da Memória e talvez algumas coisas de Zero e Um (2004), que fez 20 anos. Mas é uma forma de buscarmos mostrar algo diferente para o público — e relembrar. Estou sempre pelo discurso, inclusive ao privilegiar uma letra que fiz com 19 ou 20 anos de idade. Mas nem sempre a galera do instrumental estará feliz, pois o primeiro álbum é muito mais reto que o oitavo. De toda forma, teremos um debate legal internamente. Será legal jogar uma ideia tipo ‘quero ouvir ‘Subprodutos’’, música que não tocamos há 10 ou 11 anos. Ou ‘quero tocar ‘Quente’, que tocamos cinco anos atrás, mas quero retomar.”

RS: Acredito que a formação atual seja a mais duradoura do Dead Fish — em um contexto de muitas mudanças no passado. De que forma você acredita que o Dead Fish se beneficia, hoje, de ter uma formação mais estável? Qual você acredita que seja o grande diferencial do trio que te acompanha agora?
RL: “O grande diferencial é que eles são bem músicos. E estão dentro do nosso sindicato, da nossa essência punk/hardcore. Cada um tem uma influência. O Ric vem com uma influência maior fora do punk e hardcore, pois tocou no Black Mantra, além do Sugar Kane. O Igor Tsurumaki veio do Cueio Limão e traz muito do baixo do hardcore melódico, que pessoalmente gosto. E o Marcão é do punkão do ABC mesmo. Traz influência do metal, do grind, do crust, sons bem pesados, com mais nota. Acho que casa bem. Trocar de integrante sempre me aborreceu, embora tenha sido necessário em alguns momentos, mas fico muito feliz com essa estabilidade e por funcionarmos hoje feito um reloginho. Ajuda na estrada, ao compor, ao montar um setlist. Hoje as discussões políticas internas são menos barulhentas do que eram 15 ou 20 anos atrás, até porque éramos muito jovens e o momento político é outro. Não se discutia 20 anos atrás uma distopia política, uma esquerda adernando profundamente para entrar esse neofascismo. E temos ideias mais unânimes. Funciona ter essa estabilidade.”

RS: Por fim, você comentou sobre um planejamento para um projeto mais consolidado para o ano que vem, marcando os 35 anos. O que você tem em mente? E o que já está definido?
RL: “Estamos trabalhando em umas coisas de fazer versões de algumas bandas, não deve sair físico, mas já começamos a fazer algumas coisas para um álbum novo. Apesar de eu ainda achar que um álbum novo para os dias de hoje talvez não funcione tão bem, sempre perco essa discussão interna e sempre lançamos álbuns. E eu queria fazer um tanto de coisas. Queria lançar um livro sobre a banda, mas provavelmente não vai rolar porque são muitos dados, muitas pessoas e não conseguimos nos organizar nos últimos quatro anos. Gostaria de fazer uma turnê de 35 anos lançando álbum novo. Não sei se isso será possível, mas seria bastante interessante celebrar três décadas e meia com algo novo.”

Programação — Lollapalooza Brasil 2025

Na sexta-feira, 28, as primeiras atrações se apresentam de forma simultânea no Palco Samsung Galaxy, e no Palco Perry’s by Fiat. Para os fãs da cena indie brasileira, Pluma toca às 12h45 no Palco Mike’s Ice, enquanto Girl in Red estrela a tarde no Palco Budweiser, às 16h55. À noite, os headliners Rüfüs Du Sol e Olivia Rodrigo fecham, respectivamente, o Palco Samsung Galaxy, e o Palco Budweiser. Ao longo do dia, ainda há outros artistas, como Dead Fish, no Palco Budweiser, e Inhaler, no Palco Samsung Galaxy.

No segundo dia de evento, sábado, 29, os fãs de Alanis Morissette podem se preparar para seu show no Palco Samsung Galaxy. A apresentação da artista canadense acontece após Benson Boone, cantor que vem fazendo sucesso em todo o mundo, nesse mesmo palco. O Palco Budweiser recebe Tate McRae, uma das maiores revelações do pop de sua geração. Sua apresentação é logo antes de Shawn Mendes, que fecha a noite. Durante o dia, grandes apostas da música nacional vão ocupar o Autódromo, como Sophia Chablau e uma Enorme Perda de Tempo, que se apresenta no Palco Mike’s Ice. 

Fechando a edição de 2025, Tool se apresenta no Palco Samsung Galaxy, enquanto Justin Timberlake encerra o Palco Budweiser no domingo, 30. Ao longo do dia, se apresentam Michael Kiwanuka, voz da canção "Cold Little Heart", e na sequência, a banda Foster The People traz sucessos como "Pumped Up Kicks" e "Sit Next to Me".


Até a data das apresentações, estes horários podem ser alterados, mas todas as informações estarão atualizadas no aplicativo do festival.

+++ LEIA MAIS: A banda do Lolla Brasil que pode ser processada por show decepcionante
+++ LEIA MAIS: Dead Fish reflete sobre o hardcore: ‘Labirinto da Memória’ é uma carta ao Brasil atual [ENTREVISTA]
+++ Clique aqui para seguir a Rolling Stone Brasil @rollingstonebrasil no Instagram
+++ Clique aqui para seguir o jornalista Igor Miranda @igormirandasite no Instagram