ENTREVISTA

Savatage no Brasil: três membros contam à RS tudo sobre os shows

Banda realiza em São Paulo suas primeiras apresentações em uma década: sábado, 19/04, no Monsters of Rock; e segunda-feira, 21/04, no Espaço Unimed

Igor Miranda (@igormirandasite)

Publicado em 16/04/2025, às 12h19
Jon Oliva (esq.) e a formação atual do Savatage - Fotos: divulgação
Jon Oliva (esq.) e a formação atual do Savatage - Fotos: divulgação

Em meio às atrações do Monsters of Rock Brasil 2025, que acontece em São Paulo (Allianz Parque) neste sábado, 19, surpreendeu a presença de uma atração que não é uma das headliners, mas desperta enorme interesse. Trata-se do Savatage, banda que não se apresentava ao vivo desde 2015 e não fazia turnês desde 2002.

A presença do grupo americano de heavy/progressive metal no evento — que terá ainda Scorpions, Judas Priest, Europe, Opeth, Queensrÿche e Stratovarius — foi a primeira atividade anunciada deste retorno. Eles também estão confirmados em um evento similar no Chile e, neste caso em junho, uma série de apresentações na Europa, entre festivais e compromissos solo.

No Brasil, o Savatage ainda fará uma apresentação à parte no Espaço Unimed, também em São Paulo. Será na segunda-feira, 21, ao lado do Opeth. Ingressos para o Monsters of Rock e para o show paralelo estão disponíveis na Eventim.

Fato é que os fãs no Brasil poderão assistir à reestreia de Zak Stevens (voz), Johnny Lee Middleton (baixo), Chris Caffery (guitarra), Al Pitrelli (guitarra) e Jeff Plate (bateria), além de dois tecladistas a serem revelados. Infelizmente, o vocalista, tecladista e líder Jon Oliva não estará presente. Porém, seu envolvimento continua.

Único membro fundador ainda vivo — já que seu irmão, o guitarrista Criss Oliva, faleceu em 1993 —, o músico de 64 anos tem lidado com uma série de problemas de saúde. Em 2023, sofreu um acidente que lhe causou uma fratura em três regiões da vértebra T7. Nos últimos tempos, também foi diagnosticado com esclerose múltipla (doença crônica em que o sistema imunológico destrói a cobertura protetora de nervos) e doença de meniére (distúrbio no ouvido interno que causa episódios de vertigem).

A Rolling Stone Brasil conversou com Jon Oliva, Chris Caffery e Zak Stevens sobre os shows no Brasil, o momento atual do Savatage, a ausência do líder na turnê, as razões para o hiato ter demorado tanto tempo e um possível novo álbum. O papo com Caffery e Stevens foi exclusivo, enquanto Oliva concedeu uma coletiva de imprensa para um grupo seleto de jornalistas — com a RS sendo o único veículo nacional a participar. Confira os principais destaques das entrevistas.

Savatage conta tudo sobre shows no Brasil e atual momento

A relação do Savatage com o Brasil

Jon Oliva:“[Faremos o primeiro show no Brasil porque] Bem, vocês nos ofereceram mais dinheiro. [Risos] Estou brincando. Me diverti muito no Brasil [em turnês realizadas em 1998, incluindo o Monsters of Rock daquele ano, e 2001]. Antes de me machucar, eu falava: ‘se vamos fazer isso, vamos começar ao Brasil’. Falava disso dois anos atrás. Quando decidimos fazer isso, acho que nosso escritório contatou o Monsters of Rock, ou eles nos contataram. Essa parte não é comigo, meu trabalho é a música e definir que isso será um show matador. Mas fico feliz por começarmos no Brasil — apesar da questão de dinheiro. [Risos]”

Zak Stevens:“Com o Circle II Circle [projeto paralelo], eu consegui ir sete vezes mais do que o Savatage. Criei um ótimo relacionamento com todos no Brasil ao longo dos anos. Acredito que esse tipo de coisa seja especial, para manter o relacionamento. Não tive que esperar tanto quanto os outros caras para voltar, mas sinto que o Brasil é meio que meu segundo lar no que diz respeito à música fora dos Estados Unidos.”

Chris Caffery:“Da última vez que eu e Zak fomos, acho que fomos ao Manifesto [Bar, em São Paulo] e até fizemos um set acústico. Lembro de estar muito no Brasil desde a primeira vez. Tenho um pôster do Brasil logo aqui atrás [mostra o fundo da sala] e tem alguns ingressos embaixo dele, da última vez que estivemos lá com a formação do Dead Winter Dead em 1998. Amo os fãs brasileiros.”

O que esperar dos setlists

Jon Oliva:“Eu defini o setlist. São cerca de 26 músicas e eu estarei em cada ensaio. Também iremos adicionar algumas surpresas, não posso revelar. Mas estou bem envolvido. Eu não estaria fazendo isso aqui [entrevista] se não estivesse envolvido. Escolhi algumas mais antigas, como ‘Sirens’, ‘Gutter Ballet’, ‘Edge of Thorns’, ‘Jesus Saves’, ‘Believe’, ‘Hall of the Mountain King’, músicas que sinto que precisamos tocar. E muitas coisas de Handful of Rain (1994, primeiro álbum desde a morte de Criss Oliva) em diante. Misturei o quanto pude. O tempo passa rápido e as pessoas não percebem o quão rápido um show é. Quero que as pessoas ouçam também as músicas mais obscuras, como ‘Morphine Child’, ‘Miles Away’, ‘Follow Me’, ‘Damien’, ‘Dead Winter Dead’, ‘This is the Time’, ‘The Wake of Magellan’, ‘The Hourglass’, ‘Chance’. Os ensaios serão terríveis para esses caras — estarei em cima deles. [Risos]”

Com a ausência de Jon, haverá tecladistas? E como os vocais serão distribuídos

Zak Stevens:“Acabamos de receber os tecladistas que estão vindo conosco. Isso leva a banda a um nível totalmente novo.”

Chris Caffery:“Dois tecladistas.”

Zak Stevens:“Sim, temos mais dois tecladistas.”

Chris Caffery:“Não podemos dizer nomes. Johnny mencionou que um dos caras é, na verdade, da Colômbia. Então, não temos apenas um tecladista, temos um intérprete na parte do espanhol.

Zak Stevens:“Eu vou lidar com toda a questão dos vocais principais, mas esses tecladistas também são ótimos vocalistas. Temos mais vocais agora do que jamais tivemos. Chris está cantando muito bem e além disso temos dois grandes novos cantores que também são tecladistas. Johnny também está fazendo algumas coisas. Estou adorando, cara.”

Ausência de Jon Oliva

Jon Oliva:“Falamos sobre fazer isso [a turnê] por alguns anos. Infelizmente, fraturei minha coluna em três regiões. É muito doloroso cantar, até mesmo andar, então não pude participar. Mas não queria cancelar, porque os fãs do Savatage esperaram por tanto tempo e são fãs tão leais. E esses caras [os músicos] esperaram 20 anos para tocar. Então que façam, tudo bem, não me importo. Só quero dar aos fãs algo para mostrar a eles que ainda estamos unidos, que tudo está bem e que estamos trabalhando em um novo material. […] Estarei em todos os ensaios, montarei o show e tudo mais. Estou envolvido nisso o máximo que posso.”

Chris Caffery:“Queremos que Jon esteja lá. E acho que sua ausência vai deixá-lo inspirado para ele voltar a tocar. Foi decisão dele dar um passo para trás. Estamos ansiosos para ver todos os fãs que nos viram e todos os que nunca nos viram. E no futuro, eu tenho muita fé no nosso King of the Mountain. Continuo corrigindo quando dizem ‘reunião’, pois a banda nunca acabou. Simplesmente paramos de tocar. Você se lembra de Austin Powers, quando eles o congelaram criogenicamente? É como se eu estivesse congelado criogenicamente por 20 anos. Agora, finalmente derreteu. [Risos]”

Por que o hiato demorou tanto tempo para acabar

Jon Oliva:“Quando Criss [Oliva, guitarrista e irmão de Jon] faleceu [em 1993], isso simplesmente interrompeu qualquer progresso. Pensávamos no que iríamos fazer. [Quando Paul O’Neill, produtor e parceiro de Jon também no Trans-Siberian Orchestra faleceu em 2017] Não consegui lidar com tudo isso na época. Estávamos no embalo e simplesmente saímos de cena. Coisas estranhas acontecem quando você perde alguém tão próximo. Foi um período muito difícil, assim como quando Criss faleceu. Mas a vida continua e espero que, agora, possamos fazer um novo álbum juntos, os caras façam os shows e aí vemos o que vai acontecer. Estou ansioso.”

Chris Caffery:“Não esperava que durasse 20 anos, mas 20 dias! As coisas acontecem. Fiquei esperando pacientemente. Eu estava esperando para fazer o disco após Poets and Madmen, e quando as pessoas me perguntavam, eu dizia: ‘olha, eu quero que o Savatage toque tanto quanto qualquer um; não tenho as respostas agora, mas quando eu tiver, estarei lá’. Tocarei no Savatage antes de qualquer outra coisa musicalmente na minha vida, sempre. Não que eu tenha que largar alguma coisa, mas quando recebi a ligação para fazer a turnê, comecei a chorar no telefone. Esperei por mais de 20 anos, embora tenhamos tocado o show único no Wacken em 2015.”

Zak Stevens:“Foi uma questão de foco. O foco continuou sendo o Trans-Siberian Orchestra [projeto paralelo com músicos do Savatage] e as pessoas não entendem o quão grande é o TSO nos Estados Unidos. É o maior show de arena nos últimos 20 anos consecutivos. Se você não está aqui nos Estados Unidos, você não está vendo toda essa máquina. E quando perdemos Paul, também em 2017, logo após a reunião do Wacken, iríamos retomar. Mas ele faleceu e isso tornou tudo muito difícil para nós. Depois, ainda tivemos a covid-19.”

Chris Caffery:“E Jon teve tratamento médico. Foram todos esses pequenos solavancos na estrada. O engraçado sobre o solavanco na estrada de Jon — e eu realmente acredito que isso é verdade de muitas maneiras — é que ele deu uma entrevista para uma revista na Grécia em 2021 ou 2022, dizendo que queria fazer mais um álbum do Savatage. Naquele momento, nem havíamos falado com ele sobre isso. As pessoas diziam ‘é ótimo o Savatage estar de volta’, essa entrevista teve atenção dos promotores de shows no mundo e começamos a receber mensagens perguntando se havíamos voltado. Os empresários nos ligaram ano passado para falar de ofertas de festivais. Os primeiros foram o Monsters of Rock no Brasil, acredito que foram vocês que acenderam a chama. Acho que está na hora!”

Novo álbum do Savatage

Jon Oliva:“Já tenho praticamente um álbum pronto. Tenho trabalhado nele de vez em quando. Estávamos falando sobre a turnê antes de eu sofrer meu acidente. Tenho trabalhado em coisas há provavelmente um ano. Se eu reunir os caras para gravar, estará pronto. Mas queríamos fazer essa turnê. [...] Temos material para quatro álbuns. Só as letras não estão escritas, mas musicalmente está feito. E é culpa minha que tudo tenha parado, por conta das fraturas. [...] Até falei [em outra entrevista] que este deve ser o último, mas agora não tenho certeza. Eu tenho esse material todo. Vou fazer o quê? Lançar um álbum quádruplo? Não acho que será o último.”

Zak Stevens:“Temos muito material ótimo. Jon compõe todos os dias. Algumas das 20 músicas que já ouvimos estão sendo substituídas, porque agora temos outras ainda melhores. E em todos aqueles discos do Savatage onde Jon e eu cantamos, nunca conseguimos fazer um dueto. Mas isso vai mudar: algumas das minhas músicas favoritas de toda a nova safra são duetos.”

Chris Caffery:“Se eu fosse arriscar um palpite, este não seria o último disco, mas ‘o primeiro último disco’. Não é tipo ‘turnê de despedida falsa’, ou uma enganação. Você poderia fazer um segundo ou terceiro último disco — e mesmo assim não é o mesmo que três turnês finais.”

*O Savatage se apresenta duas vezes em São Paulo: no Monsters of Rock, Allianz Parque, dia 19 de abril; e em show à parte no Espaço Unimed, dia 21 de abril. Ingressos estão à venda no site Eventim.

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