De volta ao Brasil após 20 anos, Sean Paul fala sobre planos para o futuro e o impacto do dancehall [ENTREVISTA]
'Sempre tive muito amor pelo Brasil'
Aline Carlin Cordaro (@linecarlin)
Publicado em 06/02/2025, às 15h08
Nascido em Kingston, na Jamaica, Sean Paul é um dos principais nomes do dancehall no mundo. Com uma carreira que começou nos anos 1990, ele lançou seu álbum de estreia, Stage One, em 2000, mas foi com Dutty Rock (2002) que alcançou fama internacional, emplacando hits como Gimme the Light e Get Busy. Desde então, o artista lançou diversos álbuns de sucesso, incluindo The Trinity (2005), Imperial Blaze (2009) e Scorcha (2022).
Conhecido por colaborações com grandes nomes da música, como Beyoncé, Sia, J Balvin, Anitta e Ludmilla, Sean Paul mistura suas raízes jamaicanas com influências do pop, reggaeton e hip hop, sem perder a essência do dancehall.
Após 20 anos longe dos palcos brasileiros, Sean Paul retorna ao Brasil para uma apresentação no CarnaUOL 2025, em São Paulo.
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Em entrevista exclusiva à Rolling Stone Brasil, o artista falou sobre a importância do dancehall na música global, suas colaborações com outros artistas, e o impacto da cultura jamaicana em diferentes gênros musicais. Sean Paul também comentou sobre sua trajetória, o equilíbrio entre a carreira de cantor e produtor, e o que o público pode esperar do seu retorno ao país.
Confira a entrevista completa abaixo:
Rolling Stone (Aline Carlin Cordaro): Você esteve no Brasil há 20 anos (em 2005) para um show em São Paulo, e agora retorna como atração do CarnaUOL 2025. O que te motivou a voltar ao país depois de tanto tempo? Como você se sente ao revisitar esse público?
Sean Paul: Sempre tive muito amor pelo Brasil e minha experiência aí foi incrível. Então, fico meio decepcionado por não ter voltado em tanto tempo, mas estou realmente ansioso para essa apresentação. E, para ser honesto, queria que fosse mais do que isso. Então, um salve para os promotores, um salve para todo mundo que vai me ver. Vai ser um momento incrível, cheio de energia, cheio de vibrações. Mal posso esperar para ver todo mundo.
RS: Para o CarnaUOL 2025, o que podemos esperar do seu setlist e do show?
Sean Paul: Como eu disse, vai ter muita energia, muita vibe, e eu estou nessa estrada há bastante tempo. Então, acho que a cada ano eu fico um pouco melhor. Da última vez que estive aí, me diverti muito com o público que compareceu. Agora, estou curioso para ver se eles acompanharam minha trajetória até aqui. Vou dar tudo de mim no show. Vai ter energia, vai ter vibe, e vamos manter o ritmo para ver se o público consegue seguir. Acho que eles vão curtir muito o show, preparamos algo incrível. Estou ansioso por isso.
RS: Seu álbum mais recente, Scorcha, foi lançado em 2022 e teve colaborações com artistas como Sia, Gwen Stefani e Ty Dolla $ign. Para você, qual o desafio de equilibrar o autêntico som jamaicano com essas influências globais sem descaracterizar suas raízes?
Sean Paul: Sabe, essa é uma boa pergunta. Isso é algo que os artistas de dancehall tiveram que fazer ao longo dos anos, especialmente porque, você sabe, a nossa música raiz, ou a música que ficou realmente famosa da Jamaica, é o reggae.
Embora o dancehall seja uma ramificação do reggae e incorpore muito do que o reggae faz, é difícil para as pessoas nos colocarem em uma caixa. O som é diferente. Mas, se você prestar atenção, influenciamos muitas pessoas na forma como fazem música hoje em dia, desde o mundo pop até o hip hop e o Afrobeat. Tem muita gente meio que imitando o que já fizemos antes. E isso meio que prova que somos um gênero grande ou um som forte no mundo, sabe?
Então, tem sido isso: tentar misturar os sons com o que era popular na época, mas também inserir minha música e o que a cultura dancehall representa. E acho que isso se provou ao longo dos anos.
Então, estou muito orgulhoso da música. Sim, tem sido um equilíbrio difícil estar em turnê pelo mundo todo e voltar para casa, na Jamaica, e me manter atualizado com o que as pessoas estão ouvindo. Mas isso exige dedicação e amar o que você faz. E tem sido uma jornada incrível. Agradeço a todos que são meus fãs e, especialmente, fãs da música, do gênero. Isso fez muito pela minha vida. Então, obrigado a todos que são grandes fãs
RS: Nos últimos anos, a música latina ganhou uma projeção mundial enorme, especialmente com o reggaeton dominando as paradas. Você já trabalhou com artistas como J Balvin e DJ Snake. Como vê essa ascensão do reggaeton e sua relação com o dancehall? Existe uma troca entre esses gêneros, ou você sente que o dancehall, como gênero, ainda não recebe o mesmo nível de reconhecimento?
Sean Paul: Sabe, o espanhol é a segunda língua mais falada do mundo, eu acho. Então, era inevitável que, se a música ficasse popular, isso aconteceria. A relação é que os sons são muito parecidos, e o reggaeton vem mais da parte caribenha do mundo latino. Para nós, é como se fosse uma irmã da nossa música.
Para mim, o reggae é o pai. O hip hop é um irmão. Outro irmão seria o reggaeton ou essas vibrações do Afrobeat. Todos esses estilos meio que misturam esses sons, o que, para mim, é incrível. Sempre conseguimos colaborar com artistas de reggaeton. Eu trabalhei com Daddy Yankee, fiz músicas com Tego Calderón, que são os OGs, sabe? Ivy Queen também.
E a vibe para mim é essa, sabe? Como eu disse, são músicas irmãs ou primas. Para mim, é uma sensação excelente ver que o que fizemos conquistou o mundo em outro idioma, mas com a mesma música, sabe? Então, um salve para todo mundo que ama reggaeton. A vibe continua. É isso que estamos fazendo
RS: Depois de tantos anos lançando hits e dominando as pistas, o que ainda te motiva? Você sente que tem algo mais que deseja conquistar na música ou pensa em explorar novos caminhos no futuro?
Sean Paul: Sim, eu ainda amo música, amo fazer isso. Continuo lançando músicas, mas agora também sou produtor, e isso toma muito mais do meu tempo. Estou montando um álbum, mas também trabalhando em projetos para muitos outros artistas. Dutty Rock é meu selo, e temos artistas como Chi Ching Ching. Trabalho de perto com Busy Signal, com Charly Black, e produzimos singles para o Buju Banton.
É um estresse a mais que eu gosto, porque amo produzir, mas é muito mais trabalhoso do que só ser artista. Essas duas coisas são importantes para mim, então também estou tentando encontrar esse equilíbrio, sabe? Tô tentando surfar nessas ondas de diferentes cargos e tarefas que você precisa assumir como produtor ou artista.
É literalmente um papel diferente. Como artista, você pode pensar de forma mais egoísta, tipo: quero dizer isso para o mundo. Mas como produtor, o objetivo é tirar o melhor daquele artista. É sobre ter mais paciência. Em vez de tentar dominar a música e a composição para que vire sua, você quer extrair o melhor daquela pessoa.
E como eu disse, isso exige paciência, compreensão e orientação para ajudá-los a serem o melhor que podem ser. É um equilíbrio delicado. Mas essas são as coisas que ainda quero conquistar. Quero continuar fazendo música, seja produzindo, sendo o artista ou saindo em turnê enquanto puder. Então, um salve para todos os fãs que estão esperando me ver por aí, porque eu tô chegando!
RS: Se você pudesse mandar uma mensagem para os fãs brasileiros que esperaram 20 anos por esse momento, o que diria?
Sean Paul: É isso aí, man. Quero dizer para todo mundo que vai ao show: faz muito tempo, hein! Espero que vocês venham com muita energia. Espero que venham esperando muitos hits e também algumas músicas novas. Vamos dançar e pular no palco, e adoramos quando o público entra nessa vibe também. Então, se preparem para um momento incrível.
E um salve para todo mundo no Brasil. Mesmo que eu não tenha vindo há tanto tempo, é um dos lugares no mundo onde me sinto em casa, muito à vontade. Um salve especial para as mulheres. Respeito total. Muito amor e carinho!
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