Um dos artistas mais icônicos do Brasil foi perseguido pela ditadura e até teve caixão roubado
Considerado uma das figuras nacionais mais icônicas, Raul Santos Seixas nos deixou no dia 21 de agosto de 1989. Vítima de um ataque cardíaco, o músico foi encontrado morto na cama do próprio apartamento em São Paulo. Agora, 31 anos depois da morte do Maluco Beleza, ainda apreciamos o legado deixado por ele.
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Recentemente, com a pandemia mundial do coronavírus, uma música de Raul Seixas ressurgiu. “O Dia Em Que A Terra Parou”, de 1977, foi associada ao período de isolamento, e provou que as produções de boa qualidade são atemporais.
Além das músicas, vale relembrar o Raul Seixas como uma figura icônica. Por isso, nesta data a Rolling Stone Brasil separou algumas histórias curiosas para celebrar o artista.
Raul Seixas foi muito influenciado pelos artistas do rock and roll norte-americano. Na época -década de 1950 -, o jovem escutava as músicas de Little Richard, Elvis Presley e mais ídolos da música em discos de vinil e na rádio.
Na biografia O Baú do Raul Revirado, escrita por Silvio Essinger, existe um relato do músico sobre essa fase. “Em 54/55, ninguém sabia o que era rock. Eu tocava e me atirava no chão imitando Little Richard”, diz o relato de Raul no livro.
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Você sabia que o sonho de infância de Raulzito era ser escritor? Um depoimento do artista disponível no livro Raul Seixas por ele mesmo, de Sylvio Ferreira Passos, mostra como a era a mente do Maluco Beleza ainda jovem.
“Quando eu era guri, lá na Bahia, música pra mim era uma coisa secundária. O que me preocupava mesmo eram os problemas da vida e da morte, o problema do homem, de onde vim, pra onde vou, o que é que eu estou fazendo aqui. O que eu queria mesmo era ser escritor”, diz o depoimento no livro.
Raul Seixas chegou a ser preso depois dos fãs julgarem que ele era um impostor ou uma versão cover se passando pelo artista original em 1982. Como?
Segundo relato do baterista Edu Rocha à STV, Raul Seixas subiu ao palco em show na cidade de Caieras, em São Paulo, de gorro e esqueceu a letra da própria música. Os fãs reportaram a desconfiança de que o homem seria um impostor para a polícia, que prendeu o músico por não portar documentos que comprovassem a identidade.
Em entrevista ao Jornal Hoje, Raul Seixas relata que foi maltratado e espancado pelos policiais na ocasião. O cantor também disse para a reportagem que acreditava que os próprios produtores do evento em Caieras foram os responsáveis por causar a desconfiança, pois não tinham dinheiro para pagar o show.
Raul Seixas escreveu muitas músicas de protesto durante o período da ditadura militar. Para tentar driblar a censura, o artista incluía as críticas nas entrelinhas, como em “Dentadura Postiça”, “Sapato 36” e “Doce, Doce Amor”.
Como parte da resistência, o cantor foi duramente perseguido e torturado. “Eu fui pego na pista do Aterro (no Rio de Janeiro) quando voltava de um show. O carro da DOPS barrou o meu táxi, atravessou o táxi e eu fiquei nu com uma carapuça preta na cabeça. Fui para um lugar, acho que foi Realengo, sinto que foi por ali”, disse Raul em entrevista à FM Record, em 1988.
Depois de dias sendo torturado, Raul foi expulso do país. “Após três dias, eu estava no aeroporto, já tinha deixado o LP Gita gravado e não sabia que ia fazer tanto sucesso”, completou. O músico passou anos exilado nos Estados Unidos e só retornou ao Brasil em 1974.
No funeral de Raul Seixas, 100 fãs invadiram a cerimônia para roubar o caixão do artista. Marcelo Nova, líder do Camisa de Vênus, relembra esse dia marcante na biografia, “O Galope do Tempo”, escrita por André Barcinski.
“Eles correram pra onde estava o Raul e saíram de lá levando o caixão! Sim, levantaram o caixão e saíram. Era uma multidão enlouquecida. Os caras sacudiam o caixão, dava pra ouvir o barulho do corpo de Raul batendo lá dentro”, contou Marcelo a Barcinski.
“Eles queriam levar o corpo de Raul pra passear, pra fumar maconha, pra enfiar baseado na boca dele! (risos). Eles gritavam: ‘Raul não morreu! Ele está vivo! Vamos levar ele pra tomar uma!’", terminou de explicar o baiano.