KT Tunstall falou português, fez cover do Jackson 5 e ganhou o público pelo bom-humor no show desta quarta, 15
KT Tunstall pode ser conhecida como "cantora de um hit só", mas seu show é muito mais do que "Suddenly I See". Conversando o tempo todo com a platéia e demonstrando emoção por tocar no Brasil (chegou a dizer que "sempre foi um sonho" estar aqui), Tunstall fez uma apresentação calorosa de uma hora e trinta minutos. A platéia não estava lotada - era possível ver lugares vazios nos fundos da Via Funchal e no mezanino - mas quem compareceu, saiu satisfeito.
A cantora de 33 anos chegou ao palco dançando, de calça branca justa e camiseta amarela, às 22h20. O show começou com "Little Favors", do segundo e último CD, Drastic Fantastic. Para tocar "Miniature Disasters", KT trocou sua guitarra prateada por um violão preto - o que se repetiria entre quase todas as músicas, alternando guitarras e violões. Sempre citada como uma artista com influências folk, no show KT desfaz essa idéia em boa parte das faixas. A apresentação tem, sim, momentos mais acústicos, com um quê de bluegrass, mas a maioria das canções é bem plugada, até com uso de efeitos eletrônicos. Em diversos momentos, KT usa pedais para gravar sons, na hora, usando-os como samplers.
Logo no início, a escocesa brincou com o público. Depois de dizer que está aprendendo português, pigarreou algumas vezes antes de soltar, com forte sotaque: "Se alguém me raptar e disser que vai me matar se eu não falar português, acho que não vou lembrar dessa frase". O público caiu no riso, e KT ganhou a noite.
Depois de "Other Side of the World", ela divertiu a todos mais uma vez, perguntando se alguém sabia dançar break. Chamou a platéia, mesmo sentada, a acompanhá-la no que ela batizou de "body pump de São Paulo". Balançando os braços de forma a lembrar uma onda, a cantora agradeceu o retorno de quem a seguiu na dança, antes de mandar "Hold On". O som dos acordes dedilhados e a bateria marcial de "Someday Soon" serviram como trilha para os vários casais presentes.
A voz, que mistura rouquidão, suavidade e potência, é quase sempre acompanhada por ótimos backing vocals (guitarrista, baixista e tecladista). A escolha do tracklist é outro ponto positivo da banda, que intercala músicas mais animadas com momentos de calmaria - é o caso da seqüência "Funny Man", com direito a bandolim, e a nova "The Hidden Heart", tocada apenas ao violão.
Animada, sempre batendo o pé e dançando, KT começou "Black Horse and the Cherry Tree" sozinha no violão, acompanhada apenas de gritos e palmas. Para dar mais corpo à canção, ela gravou uma batida de punho fechado no corpo do instrumento e o "u-hu" pegajoso da faixa. No meio da faixa, a cantora usou um kazoo para entoar um cover de "Seven Nation Army" - em sua versão, foram feitos versos falando sobre estar na América Latina e tomar guaraná.
Depois do fim da turnê, em 21 de outubro, na Argentina, a cantora sairá de férias por um mês na América do Sul. No roteiro constam Machu Picchu e Patagônia, mas a recepção já a faz pensar em visitar o Brasil sem os deveres do trabalho.
A banda voltou ao palco durante a execução da música, no momento mais animado do show, continuando com "Black Horse...". Em seguida, todos os integrantes foram para frente, bem próximos a KT - Luke Bullen, baterista e marido da cantora, assumiu uma caixa de bateria, enquanto o tecladista tomou um trompete com efeito que afina o som do instrumento, remetendo a gravações antigas de jazz, em "Ashes".
KT também lembrou Rihanna, com um sorriso no rosto, ao esticar o final da palavra "umbrella" na tranqüila "Under the Weather". Todos dançaram e cantaram ao som do hit "Suddenly I See", trilha-sonora do filme O Diabo Veste Prada, e boa parte se animou a sair de perto de suas mesas e ir em direção ao palco. O tecladista usou efeitos eletrônicos para fazer a música crescer no refrão. Depois de agradecimentos, cantora e banda saíram do palco muito aplaudidos.
Sob gritos de "KT Tunstall", ela voltou sozinha. Algumas pessoas mais ao fundo da platéia perderam o bis - talvez por terem pensado que nada seria mais propício que finalizar o show com sua música mais famosa. Quem se enganou, perdeu um bom cover de "I Want You Back", do Jackson 5, usando mais uma vez o recurso dos samplers - sem o groove do quinteto, mas com o charme do timbre rouco da cantora elevado ao máximo. Lá pelo meio da música, o restante da banda voltou - com maracas, meias-luas e chocalho, tocando em volta da escocesa. O show terminou com "Stoppin' the Love", com KT batendo nas mãos do público mais próximo ao palco.