Fernanda Torres reforça à Variety que EUA patrocinaram ditadura no Brasil
Atriz indicada ao Oscar por trabalho no filme Ainda Estou Aqui também destaca o tom contemporâneo da obra: “não é apenas sobre o passado”
Igor Miranda (@igormirandasite)
Publicado em 14/02/2025, às 11h08
Na disputa por três categorias do Oscar 2025, Ainda Estou Aqui apresenta a história real de Rubens Paiva, morto pela ditadura militar, com foco na trajetória de sua esposa, Eunice Paiva. Trata-se de uma história com uma série de camadas que remetem à história não apenas do Brasil, como também de agentes internacionais — como explicitado por Fernanda Torres.
A protagonista do longa, indicada pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas ao prêmio de Melhor Atriz, relembrou em entrevista à Variety — famosa revista americana sobre cinema — a influência dos Estados Unidos no golpe militar de 1964. A própria Casa Branca confirmou a informação ao ter divulgado gravações de conversas em que o ex-presidente John Kennedycogita ao então embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Lincoln Gordon, uma intervenção militar.
Fernanda reflete:
“Este filme foi importante — politicamente, socialmente. Diferentes gerações foram ver este filme e ficaram tocadas e orgulhosas. É algo muito especial para o Brasil. A ditadura no Brasil não aconteceu isoladamente. Foi parte da Guerra Fria. Os Estados Unidos patrocinaram a ditadura no Brasil. Foi uma época distópica.”
A atriz ainda destaca que a história de Ainda Estou Aqui é atual, mesmo que retrate algo ocorrido na década de 1970. Ela afirma:
“Esta não é apenas uma história sobre o passado — é também um reflexo do agora. Novamente, estamos cheios de medo, divididos e com raiva. O populismo e a ideia de que um estado violento pode colocar ordem na bagunça moderna — é tentador. Mas devemos resistir.”
A influência dos EUA na ditadura militar brasileira
De acordo com a Agência Brasil, os americanos se esforçaram no emprego de recursos financeiros para a promoção e o incentivo de iniciativas que tivessem o intuito de combater o comunismo no Brasil. Estudos agora dão como certo até mesmo o envio de uma frota naval dos Estados Unidos para apoiar o golpe, comprovando a articulação entre militares brasileiros e o governo daquele país.
Adotando uma política intervencionista, o governo dos Estados Unidos reprovava as nacionalizações de empresas americanas e as estratégias de política externa da gestão de João Goulart — presidente deposto que não era comunista, mas propunha reformas de cunho trabalhista e de centro-esquerda, como a reforma agrária. Professor da Universidade de Columbia, John Dingens afirmou em 2014 à Agência Brasil que os Estados Unidos participaram ativamente para minar a gestão de Jango.
“O registro histórico é claro. Por causa de um medo exagerado de uma repetição da revolução cubana — um cenário que observadores objetivos consideraram ser extremamente improvável, beirando a paranóia geopolítica —, o embaixador e agentes da CIA, conspiraram e encorajaram militares brasileiros a depor o presidente eleito pelo povo brasileiro, João Goulart.”
Professor de história da Universidade de Brasília (UnB), Virgílio Arraes, aponta também à Agência Brasil que o poderio militar dos Estados Unidos foi uma das principais razões para não ter havido reação do presidente João Goulart ao golpe dado pelos militares brasileiros contra seu governo. Ele também afirma que o deslocamento da frota deve ter sido a maior movimentação naval no Hemisfério Sul desde a época da Segunda Guerra Mundial.
Qual é a história de Ainda Estou Aqui?
Baseado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, Ainda Estou Aquié ambientado no Rio de Janeiro, no início dos anos 1970, em meio à ditadura militar, e conta a história de Eunice, mãe de cinco filhos, que se envolve em uma busca infindável pela verdade após o seu marido, Rubens, ser levado por policiais à paisana e desaparecer.
Além de Fernanda Torres, o longa ainda conta com Fernanda Montenegro (A Vida Invisível), Selton Mello (O Filme da Minha Vida), Maeve Jinkings (Pedágio), Antonio Saboia (Destino Particular), Humberto Carrão (Marighella) e Marjorie Estiano (Sob Pressão) no elenco. Assista ao trailer:
Especial de cinema da Rolling Stone Brasil
O cinema é tema do novo especial impresso da Rolling Stone Brasil. Em uma revista dedicada aos amantes da sétima arte, entrevistamos Francis Ford Coppola, que chega aos 85 anos em meio ao lançamento de seu novo filme, Megalópolis, empreitada ousada e milionária financiada por ele próprio.
Inabalável diante das reações controversas à novidade, que demorou cerca de 40 anos para sair do papel, o cineasta defende a ousadia de ser criativo da indústria do cinema e abre, em bom português, a influência do Brasil em seu novo filme: “Alegria”.
O especial ainda traz conversas com Walter Salles, Fernanda Torres e Selton Mello sobre Ainda Estou Aqui, um bate-papo sobre trilhas sonoras com o maestro João Carlos Martins, uma lista exclusiva com os 100 melhores filmes da história (50 nacionais, 50 internacionais), outra lista com as 101 maiores trilhas da história do cinema, um esquenta para o Oscar 2025 e o radar de lançamentos de Globoplay, Globo Filmes, O2 Play e O2 Filmes para os próximos meses.
O especial de cinema da Rolling Stone Brasil já está nas bancas de jornal, mas também pode ser comprado na loja da editora Perfil por R$ 29,90. Confira:
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