Vocalista ainda mantém boas relações com a família, que segue na religião, mas foi motivado a ir além de sua crença
Publicado em 07/09/2024, às 09h35
A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias — cujos integrantes são popularmente conhecidos como mórmons — é uma das maiores do mundo. Criada nos Estados Unidos, onde tem grande influência, ela contava com um membro ilustre do mundo da música: Dan Reynolds, vocalista do Imagine Dragons.
A família do cantor segue vinculada à Igreja em questão, mas ele a abandonou no início de seus 20 anos — hoje o artista tem 37. E o motivo disso tem relação com uma causa que Reynolds e sua banda sempre defenderam: os direitos da comunidade LGBTQIAPN+, em contraponto à Igreja em questão, que condena a homossexualidade.
O assunto foi abordado recentemente por Dan em entrevista à People. Na ocasião, destacou que ainda mantém boa relação com a família, apesar da diferença de pensamento.
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Ele disse:
Há obviamente partes da religião mórmon que eu sinto que são fortemente prejudiciais, especialmente para nossa juventude gay. Às vezes me sinto muito isolado da minha família, mas também os amo e sou próximo deles, os vejo, não há animosidade ali. Estou em um caminho diferente. Tenho que me amar o suficiente para seguir a minha verdade.”
Dan afirma também que não impõe nenhuma crença religiosa aos filhos e preza pela liberdade deles nesse sentido. No entanto, uma iniciativa criada por ele em 2017 mostra o real motivo do distanciamento, como citado em sua fala.
À Rolling Stone EUA, o frontman do Imagine Dragons contou o que o motivou a fundar o instituto LoveLoud — ONG em apoio à comunidade LGBTQIAPN+ que também promove um festival beneficente de mesmo nome — e as razões por trás da ideia. O artista afirmou, inicialmente:
No começo do ensino médio, eu conheci o Casey. Ele era mórmon e um cantor incrivelmente talentoso. Lembro de estar no sexto ano e ouvir pessoas o chamando de gay pelas costas, rindo e zombando dele. Ele não falava abertamente de sua sexualidade, pois tenho certeza que ele se sentia completamente não seguro em fazer isso.”
Dan Reynolds conta que se arrepende até hoje de não ter protegido e amparado Casey, embora nunca tenha zombado dele. O vocalista ainda citou o caso de Tyler Glenn, frontman da banda Neon Trees, que ele também conheceu como mórmon, mas que se desligou da igreja e assumiu ser homossexual anos depois. Foram histórias como essas que motivaram a concepção do LoveLoud.
O cantor falou sobre a iniciativa, que acontece em Utah, estado onde a sede da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias existe desde o século 19, na cidade de Salt Lake. Segundo Reynolds:
Foi por isso que eu criei o LoveLoud, um festival anual em Utah que é específico para nossa juventude LGBTQIAPN+ vá e se sinta amada e aceita. Não foi fácil criar um festival em Provo, Utah, mas como vocês podem ver no filme (o documentário Believer, de 2018, onde Dan Reynolds aborda a questão dos mórmons com a homossexualidade), foi necessário e criou um espaço seguro para famílias com adolescentes LGBTQIAPN+. Todos os fundos levantados são distribuídos para instituições de caridade – o Trevor Project, a Tegan and Sara Foundation, Encircle e outros – que proporcionam serviços que salvam a vida da juventude LGBTQIAP+. O LoveLoud não é só para a juventude, mas também para sua família e amigos. Eles podem ir e serem educados em como verdadeiramente amar e aceitar nossa juventude LGBTQIAPN+. O que isso envolve? Isso significa que você aceita totalmente sua sexualidade e até celebra o amor deles da mesma forma que celebra sua heterossexualidade.”
Reynolds cita números levantados em seu documentário a respeito da taxa de suicídio de jovens no estado de Utah e em outros locais onde os mórmons são muito ativos. Ele acredita que essas mortes estejam ligadas à opressão que a fé muitas vezes impõe — e garantiu estar disposto a usar sua fama como plataforma para impedir isso.
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Mesmo assim, o vocalista do Imagine Dragons ainda se considera um mórmon. Dan disse:
Eu ainda sou mórmon: eu amo muitos dos ensinamentos e das práticas. Eu amo os valores familiares. Eu sei que existe um Deus? Em alguns dias, não. Eu acredito que o mormonismo é a única verdade? Não. Eu acho que todos os mórmons são intolerantes? Não. Nós geralmente somos boas pessoas que querem que os outros se sintam amados e aceitados, mas estamos quebrados e seguindo um ensinamento que está literalmente matando nossos jovens. Não podemos continuar nesse caminho.”
A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias foi fundada no início do século 19 por Joseph Smith, considerado o primeiro profeta da religião. Ainda adolescente, ele diz ter sido informado por um anjo de que Jesus Cristo esteve nos Estados Unidos logo depois de ressuscitar no terceiro dia após sua morte.
Smith afirmava ainda que a vinda de Cristo à região do atual estado do Missouri foi registrada em tábuas de ouro por profetas que o acompanhavam, mas que esses objetos foram levados aos céus quando Jesus retornou para lá. Um dos profetas, chamado Mórmon, fez uma cópia dos escritos das placas em um livro e a missão de Joseph era publicá-lo e divulga-lo, como se fosse uma espécie de continuação do Novo Testamento da Bíblia.
Apesar de terem tido uma aceitação difícil em seus primeiros anos, os mórmons foram ganhando adeptos, muito por conta do sistema de missionários que adotam até hoje. Jovens são educados e treinados para divulgar a religião e conseguir mais fiéis, não só nos Estados Unidos, como no mundo todo, incluindo o Brasil.
Eles acreditam que Jesus Cristo retornará no dia do Juízo Final e salvará todos os que foram batizados, vivos ou mortos, com ou sem o próprio consentimento. Devido ao interesse em batizar o maior número de pessoas possível, os mórmons possuem um grande centro de estudos genealógicos, usados por pessoas de todo o mundo.
Colaborou: André Luiz Fernandes.