ENTREVISTA

Stefanie lança primeiro álbum solo e entrega 'um presente para a cultura'

Com mais de 20 anos de carreira no rap, a artista conversou com a Rolling Stone Brasil sobre Bunmi, que chegou às plataformas nesta sexta, 25

Rodrigo Tammaro

Publicado em 25/04/2025, às 14h00
Stefanie (Foto: Thales Côrtes)
Stefanie (Foto: Thales Côrtes)

Stefanie tem uma carreira longa no rap. Nascida e criada em Santo André, na Região Metropolitana de São Paulo, a artista foi influenciada pelos grupos que popularizaram o gênero nos anos 1990 e em 2004 decidiu contar a sua versão da história a partir das próprias rimas.

Agora, mais de 20 anos depois, ela lança Bunmi, primeiro disco de estúdio solo da carreira. O álbum estreou nesta sexta, 25, e materializa as vivências e reflexões da cantora. Ao longo de 10 faixas, canta sobre amor, preconceito, perseverança e confirma porque seus versos fizeram dela uma das referências do movimento, mesmo numa época em que as mulheres eram minoria absoluta na cena hip hop.

Um presente para Stefanie para o mundo

O título do álbum tem origem na palavra Iorubá que significa “meu presente”. Assim, Bunmi nasce como uma maneira de a artista retribuir cada passo que ela deu ao longo da carreira.

"É um presente para a cultura que me ensinou tanto, um presente para o mundo e para as pessoas que torceram por esse momento. Tudo que me fortaleceu. As pessoas, o amor que eu sinto pela arte que me fez chegar até aqui, olhar esse disco e pensar: ‘Consegui entregar o que eu mais queria na vida", disse em conversa com a Rolling Stone Brasil.

Bunmi é meu projeto mais importante depois dos meus filhos e da minha família, então é muito marcante, foi uma gestação” — Stefanie
Stefanie (Foto: Thales Côrtes)
Stefanie (Foto: Thales Côrtes)

Para colocar o primeiro álbum no mundo, ela contou com a produção de Grou e Daniel Ganjaman —que também assina a direção musical— e dividiu os microfones com nomes como Luedji Luna, Emicida, Rashid, Rincon Sapiência, Nega Gizza, Cris SNJ, Mahmundi, Kamau, Rodrigo Ogi, Jonathan Ferr, Iza Sabino e a chilena Ana Tijoux.

Em meio a tantas colaborações de destaque, Stefanie também vê o disco lançado pela Jambox e selecionado no edital da Natura Musical como um presente para ela mesma. “Quando eu olho para o álbum, todas as participações, eu sinto que eu também fui presenteada por ter tanta gente que eu admiro como pessoas e como artistas. Eles são excepcionais.”

Em Bunmi, a cantora fala sobre experiências íntimas e espera que as pessoas se identifiquem. "Vejo minha música como um rap para trazer uma mensagem. É como se eu quisesse que as pessoas refletissem mesmo."

Ela abre o álbum com “Fugir Não Adianta”, desabafo corajoso sobre a transformação de dor em aprendizado — que nasceu justamente em um momento em que a artista pensava em fugir, mas segurou a barra ao pensar nos filhos. “Por um Fio” e “Desconforto” —single lançado no início de abril e acompanhado de um clipe— abordam o preconceito, mais especificamente o racismo.

Eu tentei ser o mais objetiva possível para as pessoas que não sofrem racismo entenderem o que é isso. Assim, a gente consegue promover uma mudança, um mundo mais justo, mais igualdade. Tem gente que ainda não entendeu o que é racismo. Ou não faz questão de entender. Aí, paciência, mas a gente vai fazendo a nossa parte" — Stefanie

Em “Mundo Dual”, a artista fala sobre o luto e o renascimento, enquanto a saúde mental e a solitude dão o tom em “Não Pirar” e “Nada Pessoal”. Desigualdade social e as conexões entre o passado e o futuro são temas de “Outra Realidade” e “Maat”, com “Puro Love" falando sobre a importância do amor.

Bunmi termina com “Plenitude”, música que traz uma mensagem sobre fé, esperança e superação. “Eu encontrei uma maneira de me conectar com essa energia maior que me traz paz. E que me fala assim: 'Respira e segue. Vai dar certo.'"

Nova etapa da carreira

Acostumada a participar de coletivos e grupos como Simples, Pau-de-Dá-em-Doido e Rimas & Melodias, um álbum solo marca um novo passo na carreira de Stefanie. A cantora lembra que já lançou singles como “Coroa de Flores” e “Meu Fechamento”, mas entende que um disco é mais preciso para mostrar qual é o seu estilo e sua mensagem.

Ao trazer a própria perspectiva sobre temas e experiências, a cantora também se depara com uma versão mais madura de si. Para dar vida a Bunmi, ela passou por um processo de cura e autocuidado, que resultaram em uma artista mais forte.

“Foi uma fase de muita meditação. Quando eu paro para escrever, gosto de refletir para conseguir colocar tudo para fora. E consegui entender questões minhas que eu não entendia. Então, me sinto leve. Dei um novo significado para essas coisas, tirei um peso e me sinto forte para seguir."

Refletindo sobre a própria trajetória, a artista se emocionou. “Eu falaria: ‘Você é incrível, confie mais em você e não se desmereça’”, respondeu ela quando questionada sobre um conselho que daria a si mesma na infância.

Em alguns momentos da minha vida eu desmereci o meu talento. Eu tinha algo precioso guardado. Todo mundo tem. Mas o mundo vai jogando tanta informação, a gente começa a se comparar, ainda mais atualmente, com as redes sociais. Não é assim. Cada um tem seu tempo e seu processo" — Stefanie

Pela primeira vez lançando um disco solo, mas jamais sozinha, a artista ressalta o amor como a mensagem e o conselho mais valiosos. "Sem amor ninguém segue. Tem que ter amor pelo que faz. Ter as pessoas que você ama —e que amam você— do seu lado. Não é fácil encontrar isso, mas quando acontecer, se entregue e seja verdadeiro. E que a gente possa seguir por aí fazendo o que a gente ama de verdade, dando sentido para a vida. Isso é o que mais importa nesse mundo louco de hoje."

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