Julgamento de Diddy: Mensagens vulgares e quartos de hotel destruídos à medida que o caso termina
Esta semana teve depoimento do ex-assistente pessoal de Combs, Brendan Paul, e de três testemunhas sumárias enquanto promotores encerravam o caso
Cheyenne Roundtree
Publicado em 23/06/2025, às 11h31
Promotores do Distrito Sul de Nova York começaram a encerrar seu extenso caso contra Sean Combs, também conhecido como Diddy, na sexta semana do julgamento por tráfico sexual e associação criminosa do magnata do hip hop, apresentando ao júri vários gráficos que conectavam os elementos do processo.
Acusando Combs de tráfico sexual de sua ex-namorada Casandra “Cassie” Ventura e de “Jane”, além de duas acusações de transporte para fins de prostituição, os promotores usaram diversos registros para mostrar como Combs utilizava suas empresas para financiar voos de Ventura, Jane e diversos acompanhantes masculinos para participarem de encontros sexuais que duravam vários dias, conhecidos como “freak offs”.
Conectando o caso a uma série de documentos — incluindo fotos, mensagens de texto, extratos bancários, registros de hotéis e itinerários de viagem — os promotores conseguiram identificar mais de uma dúzia de ocasiões entre 2009 e 2024 em que Combs pagou passagens para acompanhantes masculinos cruzarem o país.
Entre os registros, havia faturas de hotéis com milhares de dólares em danos decorrentes dos supostos “freak offs”. Fotos tiradas por funcionários da limpeza e anexadas às contas caras mostravam suítes bagunçadas, edredons encharcados de óleo de bebê, lençóis sujos e roupas de cama manchadas de sangue.
Nesta semana, também foi ouvido o ex-funcionário mais recente de Combs, Brendan Paul, que já foi descrito como suposto “mula” de drogas de Combs em vários processos civis. O jovem de 26 anos foi preso por posse de cocaína quando agentes federais abordaram Combs durante as batidas realizadas em março de 2024 em suas residências. Questionado pelo advogado de defesa de Combs, Brian Steel, se concordava com o rótulo de “mula”, Paul riu. “De jeito nenhum”, respondeu.
Paul afirmou que foi erro dele as drogas estarem em sua bagagem pessoal, explicando que havia feito uma varredura no quarto de Combs e acidentalmente guardado a substância em suas malas. Ele não contou à polícia que as drogas não eram suas por “lealdade”.
Mesmo assim, Paul admitiu ter comprado e entregue drogas a Combs entre cinco e dez vezes ao longo dos 18 meses em que trabalhou como seu assistente pessoal, acrescentando que considerava a quantidade compatível com “uso pessoal”. Paul disse ter pago entre 300 e 500 dólares por drogas pesadas como ecstasy, cocaína, cetamina e tusi. Separadamente, afirmou ter ajudado a reabastecer o estoque de maconha de Combs a cada dois meses, pagando 4.200 dólares por duas variedades diferentes, oito onças (cerca de 227 gramas) de cada.
Embora breve, o testemunho de Paul foi usado para fortalecer a acusação de conspiração criminosa contra Combs. O artista de 55 anos, que se declarou inocente das cinco acusações criminais, é acusado de usar seu império bilionário como uma organização criminosa. Por trás de seus negócios, Combs supostamente mantinha um estoque de substâncias ilícitas que, às vezes, distribuía a outras pessoas e, alegadamente, orientava uma equipe de funcionários leais a praticar atos de suborno, incêndio criminoso e sequestro.
Veja os principais momentos da sexta semana do julgamento, segundo informações da Rolling Stone:
Problemas com jurados
Após o debate acalorado da semana passada sobre se um dos jurados poderia continuar servindo, devido às respostas contraditórias dadas por um funcionário do Departamento de Correções de 41 anos sobre seu local de residência, o juiz federal Arun Subramanian decidiu dispensá-lo nesta segunda, 23.
“Mesmo que esse jurado tivesse alguma justificativa ou explicação para as inconsistências no registro, isso representaria apenas mais um conjunto de respostas instáveis sobre questões básicas relacionadas à sua residência,” disse Subramanian ao emitir sua decisão. “Isso só aumentaria a suspeita de que o jurado está tentando manipular suas respostas para permanecer no júri. Em outras palavras, não há nada que o jurado possa dizer neste momento que consiga ‘colocar o gênio de volta na garrafa’ e reparar o dano à sua credibilidade.”
Além desse jurado, houve outro problema na sexta-feira passada, relacionado a um segundo jurado. A sala do tribunal foi fechada enquanto as partes discutiam o assunto, que parecia resolvido no início desta semana. No entanto, detalhes da reunião sigilosa vazaram para a imprensa, o que levou o juiz a emitir um aviso severo na manhã de terça-feira. “Alguém está mentindo,” declarou Subramanian após questionar ambas as partes sobre a origem do vazamento. Ele acrescentou que todos estão “avisados” de que novas violações de suas ordens poderão resultar em sanções civis ou criminais.
Na quarta-feira, mais um contratempo: um jurado passou mal com um episódio de vertigem, o que levou ao cancelamento da audiência do dia.
Mensagens vulgares de Combs para Ventura após suposta agressão
Na sexta-feira, os promotores apresentaram um novo conjunto de mensagens de texto trocadas entre Sean Combs e Casandra Ventura, enquanto o relacionamento dos dois começava a desmoronar. As mensagens foram incluídas como parte de um gráfico que resume as dezenas de vezes em que, segundo os promotores, Combs e Ventura organizaram “freak offs”, eventos que caracterizam Ventura como vítima de tráfico sexual por meio de força física e coerção.
O casal estava em Nova York quando, em 13 de março de 2017, Combs enviou uma mensagem para Ventura perguntando sobre a possibilidade de realizar um freak off.
Nove horas depois, após conversarem brevemente sobre acompanhantes masculinos e trocarem informações sobre um quarto de hotel, Ventura mandou uma mensagem fazendo referência a uma aparente agressão física que teria ocorrido: “Que p*rra é essa. Sério,” ela escreveu. “Acho que vai ser sempre preto no branco. Você jogou fora todas as minhas coisas. Ok... Você bateu na minha cabeça.”
Eles discutiram brevemente por mensagem, com Combs acusando Ventura de ser “louca” e de “surtar” com ele. “Só pra deixar claro desta vez. Estamos dando um tempo,” escreveu Combs. “É assim mesmo que você quer encerrar isso? Tem certeza?”
Ventura respondeu: “Não, eu só não quero ser espancada por ser desafiante ou por qualquer coisa. Você me trata e me faz sentir como se eu não importasse.”
Combs então respondeu de forma grosseira, acusando Ventura de ter iniciado a briga por resistir a ele durante o freak off: “Você realmente acha que pode me fazer bater punheta por dez horas e não gozar,” escreveu Combs. “Você tá louca. Uma hora você tá perguntando sobre as paradas, na outra tá agindo como se estivesse fazendo algo contra a vontade. Se decide. Tô tentando descobrir como tirar essa porra de dentro do meu pau.”
Dias depois, os dois pareciam estar tentando se reconciliar. “Eu sabia que, se dissesse não a isso em Nova York, ia dar problema,” escreveu Ventura. “Aquelas foram minhas últimas noites com você. Você só me enxerga de um jeito. Para ser honesta, você me trata como uma prostituta. Você sempre quer chamar uma, e já tem uma. Essa prostituta tá aqui há 10 anos.”
Ventura acrescentou mais tarde: “Por favor, não se faça de vítima. Se puder, olha nossas últimas mensagens. Era só isso que você queria, e é por isso que fiquei chateada. Eu amo nossos FO’s quando os dois querem.”
Ligações incessantes e suposto suborno de US$ 100 mil
Desde o início do julgamento, tanto os promotores quanto a equipe de defesa de Sean Combs destacaram os eventos de 5 de março de 2016, no Hotel InterContinental em Los Angeles, como uma peça-chave de evidência. Além das perturbadoras imagens de segurança do hotel — que mostram Combs, apenas com uma toalha, chutando, pisoteando e arrastando sua namorada, encolhida de medo, de volta à suíte durante um freak off — os promotores alegam que os eventos seguintes oferecem uma visão clara de como a suposta organização criminosa de Combs operava em tempo real.
Por meio do testemunho da agente especial DeLeassa Penland, do Departamento de Justiça dos EUA, os promotores apresentaram ao júri uma linha do tempo detalhada dos eventos, começando na noite de 4 de março de 2016. Mensagens de texto e registros telefônicos entre Combs e Casandra Ventura mostram os dois combinando um freak off naquela noite, com Combs instruindo Ventura a ligar para “Garren”, dono do serviço de acompanhantes Cowboys 4 Angels.
Por volta das 19h30, os planos já estavam em andamento. “Oi, você,” enviou uma mensagem de um número registrado como Skyler para Ventura às 19h49, junto de um emoji sorridente. “G me pediu para te dar um alô e dizer que posso estar aí por volta das 22h30 ou 23h.” Ventura e o homem trocaram algumas mensagens tentando definir o horário, mas até as 6h da manhã, os dois aparentemente não se encontraram. “Sei que você está mandando muito bem. Só queria dizer para continuar assim,” Skyler escreveu para Ventura às 6h23 de 5 de março. “Vou deitar um pouco, então me liga se for rolar alguma coisa.” (Ventura já havia testemunhado que estava no quarto com Combs e “Jules”, um acompanhante masculino. Um segurança do hotel também relatou ter visto um homem desconhecido no quarto.)
A linha do tempo mostra que não houve mais atividade naquela manhã até que Combs ligou para Ventura oito vezes em rápida sucessão por volta das 11h30. (As imagens de segurança do hotel não fazem parte dessa linha do tempo.) Ventura não atendeu às ligações. Em vez disso, de dentro de um carro, ela tirou três fotos de si mesma com o lábio inchado e machucado, usando óculos escuros para cobrir os olhos — de acordo com os metadados extraídos do celular.
Ao longo da próxima hora, Combs tentou entrar em contato com Ventura mais de 30 vezes. Ele usou diferentes abordagens: exigindo que ela retornasse a ligação, implorando e dizendo que seria preso, acusando Ventura de tê-lo abandonado e ameaçando nunca mais falar com ela. Ventura respondeu poucas vezes, mostram os registros. “Tenho uma estreia na segunda-feira,” ela escreveu às 12h10. “Do maior trabalho da minha vida. Estou com um olho roxo e o lábio estourado. Era hora de ir embora. Você é doente por achar que é aceitável o que fez.” E acrescentou: “Por favor, fique bem longe de mim.”
Ao mesmo tempo, a equipe pessoal de Combs entrou em ação. Seu antigo segurança Damion “D-Roc” Butler, a chefe de gabinete Kristina Khorram e seu assistente pessoal tentaram localizar Combs e acalmá-lo. “Diz pra ele sair de lá antes que chamem a polícia,” Butler escreveu para Khorram às 14h31 — aproximadamente no mesmo horário em que Kerry Morgan, melhor amiga de Ventura, afirmou que Combs apareceu no apartamento da cantora batendo na porta com um martelo. “Ele não está atendendo.”
Os funcionários também tentaram convencer Ventura a falar com Combs. “Conversei com ele,” Khorram mandou para Ventura às 15h27. “Ele me prometeu que não volta aí se você apenas falar com ele por telefone por cinco minutos.”
Mais tarde naquela noite, supostamente a pedido de Combs, Khorram e o assistente tentaram entrar em contato com o segurança do hotel InterContinental, Eddy Garcia, tentando extrair informações sobre a briga. “Diz que foi uma noite divertida e com bebida, pra ver se ele conta mais coisa,” instruiu Khorram. “Você pegou o número da segurança? A polícia está perguntando… Qual o sobrenome do Eddy?”
Na manhã seguinte, 6 de março, fotos indicam que Ventura estava com Butler, que trocava mensagens com Combs ao mesmo tempo. “O rosto dela não está ruim,” Butler escreveu para Combs às 9h37. “Ela está bem. Liga pra ela. Tá sorrindo e rindo.” Combs então ligou para Ventura, e os dois conversaram por 13 minutos.
Cerca de duas horas depois, Combs ligou para Garcia. Ao longo do dia, Combs e Khorram entraram em contato com Garcia outras sete vezes. Enquanto isso, fotos mostram Ventura de volta à casa de Combs para uma prova de vestido para a estreia de seu filme — ainda usando óculos escuros.
Na manhã de 7 de março, Combs ligou duas vezes para Ventura. Eles conversaram brevemente antes de ela enviar uma mensagem: “Tô falando sério, mas não tô,” escreveu às 9h46. “Hoje era pra ser um dia muito empolgante pra mim, e eu só queria me enfiar na cama e ficar lá até estar com a aparência melhor.”
Cerca de duas horas depois, Combs voltou a entrar em contato com Garcia. Após um total de 15 interações telefônicas entre os dois ao longo da tarde, Khorram tirou uma foto da carteira de motorista de Garcia. (Durante seu depoimento, Garcia afirmou que fez um acordo com Combs para entregar a fita de vídeo do hotel, recebendo um pagamento em dinheiro de US$ 100 mil, valor que ele dividiu com outros dois seguranças do hotel.)
Às 18h30 daquela noite, fotos mostram Combs e Ventura juntos em sua casa, se preparando para o tapete vermelho da estreia do filme dela.
Quartos de hotel destruídos
Os promotores apresentaram como prova fotos dos milhares de dólares em danos causados por Sean Combs em quartos de hotel após os supostos “freak offs”. Camareiras do hotel The London, em West Hollywood, relataram com frequência danos extensos aos quartos, enviando fotos das suítes em completo estado de desordem.
Garrafas da tequila DeLeón, de propriedade de Combs, além de champanhes vazios e garrafas de vinho pela metade, apareciam espalhadas pelo quarto. Sofás, cadeiras e o chão estavam encharcados com lubrificante e óleo de bebê. As imagens também mostram pilhas de toalhas e lençóis sujos, às vezes manchados de sangue ou com resquícios de uma substância roxa.
Durante uma estadia em meados de junho de 2023, um registro do hotel The London anotou que uma camareira reportou que “o colchão novo estava encharcado de óleo” e que ela não conseguiu “colocar lençóis limpos na cama devido ao colchão estar saturado de óleo.”
O que vem a seguir
Após seis semanas de julgamento e mais de 30 testemunhas, a expectativa é que os promotores encerrem a apresentação de seu caso até a tarde de segunda-feira. A fase final do julgamento deve avançar rapidamente, e os jurados podem começar as deliberações já na sexta-feira.
Embora o advogado principal de Combs, Marc Agnifilo, tenha dito na semana passada que a defesa poderia levar de dois a quatro dias para apresentar seu caso, ele revisou essa previsão na sexta e afirmou que podem encerrar já na terça-feira. Agnifilo ainda não confirmou quem serão as testemunhas convocadas pela defesa, mas anteriormente indicou que uma ex-executiva de RH da Bad Boy Records e um psiquiatra podem estar entre os depoentes principais.
O cronograma encurtado também se deve à agenda reduzida desta semana: o tribunal esteve fechado na quinta-feira, 19 de junho, por conta do feriado de Juneteenth, e a sexta-feira já estava programada como dia de meio expediente. Além disso, um jurado passou mal com vertigem na quarta-feira, o que resultou em apenas dois dias completos de julgamento.
O juiz Arun Subramanian tem reiterado ao júri — com garantias tanto da defesa quanto da promotoria — que o julgamento deve ser concluído antes do feriado de 4 de julho. A equipe de defesa de Combs provavelmente quer garantir que os jurados tenham tempo suficiente para chegar a um veredito com calma, evitando que se sintam apressados ou ansiosos devido aos planos para o feriado que se aproxima.