Como é trabalhar com Axl Rose, segundo ex-guitarrista do Guns
Ron “Bumblefoot” Thal integrou a banda entre 2006 e 2014, tendo participado do álbum Chinese Democracy (2008) e realizado turnês
Igor Miranda (@igormirandasite)
Publicado em 10/02/2025, às 18h01
Axl Rose se tornou uma das figuras mais enigmáticas da história do rock. Desde o início dos anos 1990, o vocalista do Guns N’ Roses concede pouquíssimas entrevistas. Pessoas em seu entorno raramente falam dele de forma pública, especialmente aqueles que o cercaram no século 21, em meio às incontáveis reformulações de sua banda. Logo, pouco se sabe a seu respeito.
Por isso, um relato como o de Ron “Bumblefoot” Thal ao Ultimate Guitarse torna tão interessante para os fãs mais curiosos. O guitarrista integrou o Guns entre 2006 e 2014, na vaga deixada por Buckethead. Deu tempo de participar de Chinese Democracy (2008), único álbum lançado sem os integrantes clássicos Slash e Duff McKagan.
De acordo com Bumblefoot, foi “incrível” trabalhar com Rose. O músico destacou, em especial, a dinâmica em estúdio. Embora tenha participado apenas das etapas finais — visto que o álbum estava em desenvolvimento desde o fim dos anos 1990 —, ele pôde gravar colaborações para todas as faixas, incluindo o solo de “Shackler’s Revenge”.
“Foi incrível! Fizemos uma turnê de três meses e no meio tempo, em 2006 ou 2007, íamos para o estúdio Electric Lady em Manhattan ou lugares na área de Los Angeles. Eu trabalhava com o produtor, Caram [Costanzo], levava um monte de guitarras e ficávamos experimentando.”
Como o ambiente criativo era bem aberto, Thal oferecia várias ideias para as músicas, que já estavam “muito perto de serem finalizadas” quando ele se envolveu.
“Você quer criar algo que tenha valor para a música, mas sem pisar no que já está lá. Então, apenas tentávamos coisas diferentes para cada música, tipo, 14 horas por dia em uma música. Tentava coisas mais bluesy, mais sujas, mais técnicas, com wah wah, mais limpas, com dedilhados, mais melódicas…”

Ao que tudo indica, o trabalho com Axl e com os instrumentistas era separado. Rose não se envolvia com a atuação dos guitarristas, baixista, baterista e tecladistas, mas sim o mencionado produtor, Caram Costanzo. O profissional de estúdio em questão ajudava o vocalista a selecionar o que realmente entraria no produto final.
“Eles [Axl e Caram] decidiam o que funcionava ou não, o que deveria ser destaque ou ficar no fundo. É o que produtores fazem: seguiam com o que achavam que era melhor para as músicas e emendavam tudo. No final, eu ouço o álbum e penso: ‘Espere aí, sou eu aqui? Sim, sou eu! Eu toquei nessa parte’. Foi meio que uma surpresa ver o que eles escolheram e como eles imaginaram.”
Os vários envolvidos com Chinese Democracy
A declaração de Bumblefoot sobre o distanciado trabalho em estúdio com Axl Rose — que também não costuma comparecer nos ensaios para shows — pode surpreender quem esperava por um processo mais convencional de “banda”, mas a lista de créditos de Chinese Democracy mostra que o processo foi bem diferente do usual. Ao todo, doze integrantes são creditados pelo trabalho, além de uma série de convidados especiais.
Ao todo, cinco guitarristas ficaram a cargo das gravações: Bumblefoot, Buckethead, Robin Finck, Paul Tobias e Richard Fortus. No baixo, apenas Tommy Stinson, o único a integrar a banda no período. Três bateristas receberam menção: Josh Freese (ainda que apenas por arranjos e composição), Bryan “Brain” Mantia e Frank Ferrer. Nos teclados, Dizzy Reed (o único além de Rose a ter integrado a banda antes da reformulação) e Chris Pitman.

Por essa e outras razões, Bumblefoot acredita que não seria possível compreender Chinese Democracy na primeira audição. O guitarrista garante: a complexidade do álbum exige que o ouvinte dê mais algumas chances.
“Há tantas camadas no que acontece em cada música. Você não pode simplesmente ouvir essas músicas todas uma vez. É como um daqueles filmes que você volta, assiste novamente e pega algo que perdeu antes.”
O instrumentista diz, ainda, que as sessões de Chinese Democracy foram proveitosas a ponto de render material para a formação atual. Quatro faixas foram lançadas desde as voltas de Slash e Duff McKagan — “Absurd”, “Hard Skool”, “Perhaps” e “The General” —, mas todas elas são do período citado. “São coisas de onde eles me tiraram, colocaram Slash e retrabalharam para a banda atual”, explicou.
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